Às vésperas do 19 de abril, Lizzy Titiá é a mais nova indígena nascida no Hospital Materno-Infantil de Ilhéus

Por Redação Oxarope
18/04/2025

Publicado em -

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O discurso de Bruna Titiá, de 19 anos, é direto, sem rodeios: “o que queremos é respeito”. No leito 1 do Centro de Parto Normal (CPN) do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio (HMIJS), em Ilhéus, horas depois do nascimento de Lizzy Titiá, a moradora da Aldeia Caramuru Paraguaçu – comunidade com aproximadamente 5 mil habitantes na zona rural de Pau Brasil – amamenta a pequena indígena e sonha com um futuro onde Lizzy consiga preservar as raízes do seu povo e manter a tradição de sua gente.

A escolha pelo Materno-Infantil de Ilhéus para o nascimento de sua primeira filha ocorreu por dois motivos. Primeiro, porque a unidade é a única da Bahia habilitada pelo Ministério da Saúde para atendimento especializado aos Povos Indígenas, uma conquista assegurada pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) e pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS), entidade gestora do hospital desde a sua inauguração, em dezembro de 2021. Segundo, pelos elogios que ouviu sobre o atendimento que receberia. “E isso tudo em confirmei aqui”, resume.

Bruna chegou à Emergência Obstétrica do HMIJS na tarde de quarta-feira (16). Às 19h30min, Lizzy nasceu. “Comecei o trabalho de parto no chuveiro, acompanhada por minha mãe e pelas enfermeiras obstetras. Depois a dor arrochou e eu vim pra cama, onde pari”, relata.

Mais respeito

Estudante do quinto semestre de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Bruna Titiá revela que o preconceito com as causas indígenas geralmente parte de pessoas “que vão pelo pensamento dos outros, não conhecem a realidade e a história da gente”. Lamenta os diversos conflitos que ocorrem, neste momento, nas regiões sul e extremo sul da Bahia e sonha que, um dia, tudo poderá ser mais pacífico com as pessoas compreendendo e aceitando melhor a existência das outras.

A habilitação do HMIJS como hospital referência no atendimento aos povos indígenas do estado trouxe consigo uma nova realidade para as gestantes, especialmente das etnias Pataxó, Tupinambá e Pataxó Hã-há-hãe, habitantes do sul e extremo sul do estado. Até o final de março, 392 bebês indígenas tinham nascido na unidade. Quase 4 mil atendimentos foram realizados.

O Hospital Materno-Infantil coloca em prática as diretrizes gerais que norteiam o programa, que vão desde a melhoria no acesso das populações indígenas ao serviço especializado; adequação da ambiência de acordo com as especificidades culturais; e ajuste de dietas hospitalares considerando os hábitos alimentares de cada etnia. A iniciativa conta ainda com o acolhimento e humanização das práticas e processos de trabalho dos profissionais em relação aos indígenas e demais usuários do SUS, considerando a vulnerabilidade sociocultural e epidemiológica de alguns grupos.

Também estão previstos o estabelecimento de fluxo de comunicação entre o serviço especializado e a Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena, por meio das Casas de Saúde Indígena (CASAI) e a qualificação dos profissionais que atuam nos estabelecimentos que prestam assistência aos povos indígenas quanto a temas como interculturalidade. Também está estabelecido que o Hospital Materno-Infantil passa a ser referência no processo multiplicador para a implantação do IAE-PI nos demais unidades hospitalares da Bahia.

Representatividade

O Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas, segundo os dados divulgados pelo IBGE. Com 229.103, a Bahia conta com a segunda maior população indígena no país, o que representa 1,62% dos habitantes do estado. Salvador é a segunda capital mais indígena do Brasil. No ranking das 50 cidades do Brasil com maior comunidade do grupo étnico, a Bahia ainda conta com Porto Seguro, em 14°, e Ilhéus, 21°. Entre a pesquisa de 2010 e de 2022, ocorreu em todo o Brasil um acréscimo de 88,8% no contingente absoluto de pessoas que se autodeclararam indígenas.

O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a primeira maternidade 100 por cento SUS da região sul do Estado. Possui 105 leitos para obstetrícia, partos normal e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e Neonatal. Já ultrapassou a marca de 10 mil bebês nascidos na unidade.

Fotos: Maurício Maron

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Por Redação Oxarope
18/04/2025 - 12h39 - Atualizado 18 de abril de 2025

Publicado em -

3f1037cd-6de0-4528-ae80-e4ae27468314-1

O discurso de Bruna Titiá, de 19 anos, é direto, sem rodeios: “o que queremos é respeito”. No leito 1 do Centro de Parto Normal (CPN) do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio (HMIJS), em Ilhéus, horas depois do nascimento de Lizzy Titiá, a moradora da Aldeia Caramuru Paraguaçu – comunidade com aproximadamente 5 mil habitantes na zona rural de Pau Brasil – amamenta a pequena indígena e sonha com um futuro onde Lizzy consiga preservar as raízes do seu povo e manter a tradição de sua gente.

A escolha pelo Materno-Infantil de Ilhéus para o nascimento de sua primeira filha ocorreu por dois motivos. Primeiro, porque a unidade é a única da Bahia habilitada pelo Ministério da Saúde para atendimento especializado aos Povos Indígenas, uma conquista assegurada pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) e pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS), entidade gestora do hospital desde a sua inauguração, em dezembro de 2021. Segundo, pelos elogios que ouviu sobre o atendimento que receberia. “E isso tudo em confirmei aqui”, resume.

Bruna chegou à Emergência Obstétrica do HMIJS na tarde de quarta-feira (16). Às 19h30min, Lizzy nasceu. “Comecei o trabalho de parto no chuveiro, acompanhada por minha mãe e pelas enfermeiras obstetras. Depois a dor arrochou e eu vim pra cama, onde pari”, relata.

Mais respeito

Estudante do quinto semestre de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Bruna Titiá revela que o preconceito com as causas indígenas geralmente parte de pessoas “que vão pelo pensamento dos outros, não conhecem a realidade e a história da gente”. Lamenta os diversos conflitos que ocorrem, neste momento, nas regiões sul e extremo sul da Bahia e sonha que, um dia, tudo poderá ser mais pacífico com as pessoas compreendendo e aceitando melhor a existência das outras.

A habilitação do HMIJS como hospital referência no atendimento aos povos indígenas do estado trouxe consigo uma nova realidade para as gestantes, especialmente das etnias Pataxó, Tupinambá e Pataxó Hã-há-hãe, habitantes do sul e extremo sul do estado. Até o final de março, 392 bebês indígenas tinham nascido na unidade. Quase 4 mil atendimentos foram realizados.

O Hospital Materno-Infantil coloca em prática as diretrizes gerais que norteiam o programa, que vão desde a melhoria no acesso das populações indígenas ao serviço especializado; adequação da ambiência de acordo com as especificidades culturais; e ajuste de dietas hospitalares considerando os hábitos alimentares de cada etnia. A iniciativa conta ainda com o acolhimento e humanização das práticas e processos de trabalho dos profissionais em relação aos indígenas e demais usuários do SUS, considerando a vulnerabilidade sociocultural e epidemiológica de alguns grupos.

Também estão previstos o estabelecimento de fluxo de comunicação entre o serviço especializado e a Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena, por meio das Casas de Saúde Indígena (CASAI) e a qualificação dos profissionais que atuam nos estabelecimentos que prestam assistência aos povos indígenas quanto a temas como interculturalidade. Também está estabelecido que o Hospital Materno-Infantil passa a ser referência no processo multiplicador para a implantação do IAE-PI nos demais unidades hospitalares da Bahia.

Representatividade

O Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas, segundo os dados divulgados pelo IBGE. Com 229.103, a Bahia conta com a segunda maior população indígena no país, o que representa 1,62% dos habitantes do estado. Salvador é a segunda capital mais indígena do Brasil. No ranking das 50 cidades do Brasil com maior comunidade do grupo étnico, a Bahia ainda conta com Porto Seguro, em 14°, e Ilhéus, 21°. Entre a pesquisa de 2010 e de 2022, ocorreu em todo o Brasil um acréscimo de 88,8% no contingente absoluto de pessoas que se autodeclararam indígenas.

O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a primeira maternidade 100 por cento SUS da região sul do Estado. Possui 105 leitos para obstetrícia, partos normal e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e Neonatal. Já ultrapassou a marca de 10 mil bebês nascidos na unidade.

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