Entre 2023 e 2024, a produção florestal da Bahia saltou 33,5%, alcançando R$ 2,249 bilhões, o recorde dos últimos 30 anos. O desempenho foi puxado pela silvicultura. Há sinais de que municípios do Sul e Extremo Sul podem se tornar protagonistas dessa nova fase.
A pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS 2024), do IBGE, oferece o panorama mais recente da dinâmica florestal na Bahia e no Brasil.
Em âmbito nacional, o valor da produção florestal em 2024 atingiu R$ 44,3 bilhões, com alta de 16,7% frente a 2023. Esse resultado veio dos avanços tanto na silvicultura quanto na extração vegetal.
No Nordeste, especialmente na Bahia, o crescimento observado entre 2023 e 2024 foi muito acima da média nacional. Isso indica que o setor florestal local está encontrando condições favoráveis para expansão.
Crescimento notável: silvicultura e extração vegetal
- O valor da silvicultura na Bahia subiu 36,5%, de cerca de R$ 1,531 bilhão em 2023 para R$ 2,089 bilhões em 2024.
Essa modalidade concentrou aproximadamente 92,8% do valor total da produção florestal estadual. - A extração vegetal, que envolve produtos de florestas nativas, teve acréscimo de 4,3%, totalizando R$ 160 milhões em 2024.
- Em conjunto, silvicultura e extração geraram R$ 2,249 bilhões em 2024, cifra 33,5% superior ao valor de 2023. Isso estabeleceu um novo recorde para a Bahia desde o início do Plano Real.
- Apesar do crescimento nominal, a Bahia caiu de 8.º para 9.º lugar no ranking nacional da extração vegetal. Foi ultrapassada por Rondônia, que gerou R$ 230,8 milhões.
Produção por produto: altos e baixos
- Na silvicultura:
- Carvão vegetal: +4,2% em volume; valor produzido subiu +17,4%.
- Madeira em tora: +6,8% em volume; valor gerado saltou +41,6%.
- Lenha: queda acentuada de –31,7% em volume; valor caiu –19,5%, após quatro anos consecutivos de alta.
- Na extração vegetal (florestas naturais):
- Carvão vegetal: +3,2% em volume.
- Lenha: crescimento de +3,7%. O dado chama atenção por ser a primeira alta após anos seguidos de queda.
- Madeira em tora: única com recuo de –4,7%, atingindo o menor volume desde 1986. O valor caiu –1,7%.
Área e estrutura de cultivo
- A área destinada à silvicultura no estado recuou 2,8% entre 2023 e 2024, chegando a 544.962 hectares. Com isso, são cinco anos seguidos de redução.
- No ranking dos municípios, Caravelas, no Sul/Extremo Sul, manteve protagonismo, com 75.872 hectares dedicados à silvicultura em 2024 (13,9% do total estadual).
- Apesar da expressiva área local, Caravelas caiu da 9.ª para a 10.ª posição nacional entre os municípios com maior área plantada.
Extração não madeireira: liderança em produtos típicos do semiárido
A Bahia se destacou na extração de produtos não madeireiros, como frutos e sementes:
- Seis dos 12 produtos investigados tiveram aumento de produção.
- O estado lidera nacionalmente em umbu, castanha-do-caju, licuri e urucum.
- O valor da produção de umbu subiu 5,6%, atingindo R$ 11,8 milhões. Isso representa quase metade do valor nacional.
Esses dados reforçam o peso da economia extrativista na Bahia interiorana, especialmente nas regiões do sertão e semiárido.
A valorização da produção florestal pode gerar efeitos concretos:
- Renda para comunidades rurais: municípios menores, especialmente no Extremo Sul, podem receber novos investimentos em silvicultura e manejo florestal sustentável.
- Desafios ambientais e regulatórios: é fundamental expandir com controle, respeitando limites legais e ambientais.
- Valor agregado local: aumentar produção é importante, mas gerar valor dentro do território (indústria, beneficiamento) pode ter um impacto multiplicador ainda maior.
Apesar do avanço expressivo, poucas análises destacam o papel estratégico de municípios como Alcobaça, Entre Rios, Caravelas e Baianópolis, que vêm se destacando na silvicultura e extração.
Enquanto os números indicam recorde histórico, o dado mais intrigante é a redução da área plantada ao mesmo tempo em que o valor cresceu fortemente. Isso sinaliza melhorias em produtividade, especialização em produtos de maior valor ou valorização no mercado.
O destaque de Caravelas e Alcobaça, no Sul e Extremo Sul, mostra que essa virada pode ter base territorial clara. Se houver investimento em logística, capacitação técnica e incentivos, a região poderá se consolidar como um dos grandes polos florestais do país.
É necessário garantir que essa transformação traga desenvolvimento com justiça social e equilíbrio ambiental. No fim das contas, não se trata apenas de bilhões em cifras. Trata-se de comunidades, florestas, empregos e futuro.
O crescimento da produção florestal na Bahia entre 2023 e 2024 não foi acidental. É fruto de um cenário mais favorável para o setor, de melhorias na gestão e de potencialidades regionais.
Para o Sul e Extremo Sul, o momento é de oportunidade. Cabe aos atores locais, como produtores, prefeitos, sindicatos e o Estado, fazer com que esse ciclo positivo se converta em desenvolvimento sustentável, duradouro e justo.