A intensificação das tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos ganhou novo capítulo nesta sexta‑feira (18/07/2025), quando o governo norte‑americano revogou o visto de oito ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Cármen Lúcia, após a operação da Polícia Federal contra o ex‑presidente Jair Bolsonaro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota oficial manifestando “solidariedade e apoio” aos magistrados, classificando a medida como “arbitrária e sem fundamento”, e ressaltando a necessidade de preservar a soberania nacional e a independência do Judiciário.
Contexto e repercussão
Na última sexta‑feira, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou no X (ex‑Twitter) que o ex‑presidente Donald Trump havia determinado a revogação dos vistos de Moraes — e estendeu a medida a “aliados na Corte” e seus familiares —, acusando o STF de promover uma “caça às bruxas política” contra Bolsonaro. A decisão ocorreu pouco depois de a Justiça brasileira determinar o uso de tornozeleira eletrônica para Bolsonaro, proibir suas redes sociais e aprovar buscas e apreensões em sua residência
O movimento se insere num pacote de ações dos EUA que também incluiu ameaça de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, além de considerar sanções sob a Lei Magnitsky
Por sua vez, o governo brasileiro — através da ministra Gleisi Hoffmann — classificou a medida como “afronta à soberania nacional” e defendeu o pleno funcionamento do Estado, sem interferências, especialmente diante da crise entre os poderes.
A nota da Presidência e a defesa de Lula
O presidente Lula divulgou a seguinte mensagem oficial por meio da Secretaria de Comunicação Social, manifestando-se com clareza sobre a medida:

“Minha solidariedade e apoio aos ministros do Supremo Tribunal Federal atingidos por mais uma medida arbitrária e completamente sem fundamento do governo dos Estados Unidos. A interferência de um país no sistema de Justiça de outro é inaceitável e fere os princípios básicos do respeito e da soberania entre as nações. Estou certo de que nenhum tipo de intimidação ou ameaça, de quem quer que seja, vai comprometer a mais importante missão dos poderes e instituições nacionais, que é atuar permanentemente na defesa e preservação do Estado Democrático de Direito.” — Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República
Essa declaração reforça a visão do Planalto de que as sanções americanas constituem uma “intromissão injustificável” na independência das instituições brasileiras. Afirmando confiança no Supremo, Lula reafirma que o Brasil permanece firme na defesa da democracia e do ordenamento jurídico.
Análise: risco diplomático e resposta institucional
A medida americana atinge diretamente a autonomia do Poder Judiciário brasileiro e agrava a crise diplomática iniciaa com a operação judicial contra Bolsonaro.
A estratégia dos EUA, que une sanções pessoais e tarifárias — busca pressionar no plano geopolítico, mas encontra reação imediata de Brasília com forte discurso em defesa da soberania nacional.
Internamente, a posição unificada do governo e do STF sinaliza resistência e rejeição de interferências externas, consolidando o entendimento de que decisões do Judiciário devem ser respeitadas, sem influência estrangeira.
Caminhos à frente
Diplomacia bilateral: espera‑se que o Itamaraty convoque o embaixador dos EUA e adote medidas oficiais de retaliação ou solicitação de diálogo.
Reação econômica: o Brasil pode retaliar com tarifas próprias ou outras restrições comerciais, conforme previsto na Lei de Reação Econômica de 2021.
Judicialização política: o STF deverá avaliar possíveis repercussões midiáticas e institucionais desse confronto, inclusive sobre o impacto à imagem internacional da Justiça brasileira.
Como jornalista, vejo nestes desdobramentos um claro sinal de que, nos jogos de poder global, a soberania nacional e o respeito institucional são tensões convulsivas que podem desestabilizar a cena diplomática. A nota presidencial, ao mesmo tempo em que se mostra firme, convoca o leitor a refletir: até que ponto um país pode interferir nas decisões judiciais de outro sem ferir os princípios da convivência democrática? Esse embate não é apenas legal; é político, ético e, sobretudo, simbólico. E exige do Brasil uma postura assertiva e coesa.