A Bahia tem a segunda maior população indígena do país, com cerca de 229 mil pessoas segundo o Censo 2022. No extremo sul do estado, municípios como Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália abrigam povos como os Pataxó e Tupinambá. A nova contagem revela tensões entre identidade, território e invisibilidade.

O Censo Demográfico 2022 revelou que mais de 229 mil pessoas na Bahia se autodeclaram indígenas, o que representa 13,5% do total indígena do Brasil.
Embora o número absoluto tenha crescido, apenas 38,5% dessas pessoas informaram pertencer a uma etnia específica, o que é bem abaixo da média nacional de 74,5%.

Grande parte dessa população vive fora de terras indígenas e em áreas urbanas, o que dificulta a preservação cultural e o reconhecimento étnico.
No extremo sul da Bahia, municípios como Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Prado e Pau Brasil se destacam como áreas de forte presença indígena.

Mesmo com a queda na proporção de indígenas que declaram sua etnia, a diversidade aumentou. A Bahia passou de 165 etnias registradas em 2010 para 233 em 2022.

Ainda assim, apenas 3,3% dos indígenas baianos com 2 anos ou mais falam ou utilizam alguma língua indígena em casa.

Os dados do IBGE revelam muito mais do que números. Eles expõem as fragilidades que as comunidades indígenas enfrentam, especialmente no extremo sul da Bahia.
Invisibilidade cultural
A baixa taxa de declaração de etnia não é apenas uma questão estatística. Ela reflete medo, falta de reconhecimento e ausência de políticas públicas.
No extremo sul, onde pressões econômicas e históricas se somam, essa invisibilidade é ainda mais evidente.
Reconhecimento e território
A Bahia tem uma das maiores diversidades étnicas do país, mas muitas dessas comunidades ainda lutam por reconhecimento formal e por seus territórios tradicionais.
Para os Pataxó e Tupinambá, isso significa enfrentar obstáculos para manter seus modos de vida e garantir o direito à terra.
Língua como resistência
Apenas 3,3% dos indígenas baianos falam línguas indígenas em casa. Esse número é preocupante, pois a língua é um dos pilares de qualquer identidade cultural.
No extremo sul, a língua Pataxó ainda resiste, mas seu uso está cada vez mais restrito a poucas comunidades e faixas etárias.
Decisões técnicas que afetam vidas reais
Quando indígenas não são reconhecidos como tal nos dados oficiais, ficam de fora de políticas específicas.
Isso impacta diretamente acesso à educação bilíngue, saúde diferenciada, financiamento cultural e proteção territorial.
O cacique Agnaldo Pataxó Hã-Hã-Hãe, liderança do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia, alerta para o apagamento da identidade. Segundo ele, muitos ainda precisam negar sua origem por medo de retaliação e violência.
A presença da Força Nacional em áreas do extremo sul baiano reflete a tensão constante em disputas por terras tradicionais.
Os dados do IBGE podem ajudar a fortalecer as reivindicações, mas só terão efeito se acompanhados de ações concretas por parte do poder público.
É simbólico que em pleno 2025 ainda se fale em “autodeclaração” como barreira. Na prática, o que está em jogo é a permissão de existir com dignidade.
No extremo sul da Bahia, onde povos como os Pataxó vivem há séculos, as lutas por território e cultura continuam sendo diárias.
O Censo traz avanços no registro, mas o desafio agora é político e social.
Se a sociedade não reconhecer o valor dessas culturas e o Estado não garantir seus direitos, os próximos censos contarão menos idiomas, menos histórias e menos gente viva em sua identidade plena.

Os dados do IBGE mostram um cenário complexo. A Bahia abriga uma das maiores populações indígenas do país, com riqueza cultural que resiste mesmo diante da invisibilidade.
No extremo sul, onde essa presença é mais intensa, os desafios se tornam mais urgentes.
Valorizar, proteger e ouvir essas comunidades é mais do que uma questão de justiça. É uma dívida histórica.

















