A festa foi liberada pelo juiz. Mas quem deveria autorizar? Política, Justiça e os limites de cada Poder

Por Murillo Vazquez
23/05/2025

Publicado em

70E529B5-A857-40A7-8B59-8A16023FD86C

A “II Feira de Agricultura de Eunápolis”, marcada por um forte embate entre grupos políticos locais, ganhou destaque estadual após uma decisão judicial liberar sua realização mesmo com a negativa da Prefeitura. O episódio reacendeu um debate nacional: até onde vai o poder do Judiciário? E, mais do que isso: quando o juiz ultrapassa os limites do seu papel constitucional?

Contexto político: dois grupos, uma guerra silenciosa

De um lado, o prefeito José Robério Oliveira. Do outro, o grupo liderado por Neto Carletto, aliado da Paradise Eventos, empresa responsável pela feira. A Prefeitura alegou ausência de alvarás e requisitos técnicos; a Justiça liberou o evento a menos de 24 horas da sua realização. O pano de fundo é uma disputa política acirrada, onde a festa se tornou símbolo de um duelo pelo espaço público e pela narrativa eleitoral.

Quem deveria autorizar o evento? A Constituição responde

O artigo 30, inciso I, da Constituição Federal determina que compete aos municípios legislar e agir sobre assuntos de interesse local — como eventos públicos. Cabe ao Executivo, por meio de suas secretarias, avaliar o uso do solo, a segurança, o impacto ambiental e sanitário.

É a Prefeitura quem emite as licenças. O juiz pode, no máximo, controlar a legalidade do indeferimento, mas jamais substituir a análise técnica do Executivo.

Liminar judicial: justiça ou invasão de função?

O juiz concedeu liminar autorizando o evento, alegando “interesse público” e “risco de prejuízo irreparável”. No entanto, desconsiderou pareceres técnicos e documentos exigidos por lei municipal. A jurisprudência do STF é clara:

“É vedado ao Judiciário substituir a Administração no exercício de sua atividade discricionária, salvo em caso de ilegalidade.”

(STF – RE 1240999)

A decisão não apenas ultrapassou esse limite, como escancarou uma ferida institucional: quando decisões individuais de juízes interferem na administração pública, o sistema entra em desequilíbrio.

Projeto de Lei quer frear decisões como essa

O caso de Eunápolis surge no mesmo momento em que o Congresso Nacional discute o Projeto de Lei que limita decisões monocráticas no STF e em tribunais superiores. A proposta quer restringir o poder de um único magistrado de suspender políticas públicas ou atos de outros Poderes, especialmente em caráter liminar.

Esse movimento do Legislativo busca resgatar o equilíbrio entre os Poderes e combater o ativismo judicial, frequentemente criticado por decisões que interferem em políticas públicas sem respaldo técnico ou diálogo institucional.

Quem responde pelos danos se houver erro?Se houver prejuízo ao erário ou à população, o ente público pode ser responsabilizado civilmente, e o Estado pode mover ação regressiva contra o juiz (art. 37, §6º da Constituição) em caso de erro grosseiro, abuso de autoridade ou favorecimento.

A autorização de eventos públicos deve ser técnica, transparente e legal. Quando juízes decidem sozinhos, sem respaldo técnico, por pressão política ou urgência criada, não estão promovendo justiça estão fragilizando a democracia. A separação dos Poderes não é detalhe: é o que impede que a política se torne um jogo sem regras.

1678540344banner-970x90-bello.png

Mais recentes

A festa foi liberada pelo juiz. Mas quem deveria autorizar? Política, Justiça e os limites de cada Poder

A “II Feira de Agricultura de Eunápolis”, marcada por um forte embate entre grupos políticos locais, ganhou…

Governador realiza visita técnica à sede da Bahiafarma; estado vai avançar na produção de testes rápidos

O governador Jerônimo Rodrigues, acompanhado da secretária da Saúde, Roberta Santana, realizou, nesta quarta-feira (21), uma visita…

Neto Carletto denuncia descaso do DNIT com a ponte do Rio Jequitinhonha e cobra soluções urgentes

Durante reunião da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (21), o deputado…

De Brasília, prefeito Ricardo Flauzino confirma investimentos de mais de R$ 12 milhões em obras para Itabela

Durante agenda oficial em Brasília, o prefeito de Itabela, Ricardo Flauzino, confirmou nesta quarta-feira (21) investimentos superiores…

Deputada Cláudia Oliveira intensifica cobranças por solução definitiva para a ponte sobre o Rio Jequitinhonha

Feira de Santana (BA) – Em meio às intensas chuvas que atingem o sul da Bahia, a…

A festa foi liberada pelo juiz. Mas quem deveria autorizar? Política, Justiça e os limites de cada Poder

Por Murillo Vazquez
23/05/2025 - 21h00 - Atualizado 23 de maio de 2025

Publicado em

70E529B5-A857-40A7-8B59-8A16023FD86C

A “II Feira de Agricultura de Eunápolis”, marcada por um forte embate entre grupos políticos locais, ganhou destaque estadual após uma decisão judicial liberar sua realização mesmo com a negativa da Prefeitura. O episódio reacendeu um debate nacional: até onde vai o poder do Judiciário? E, mais do que isso: quando o juiz ultrapassa os limites do seu papel constitucional?

Contexto político: dois grupos, uma guerra silenciosa

De um lado, o prefeito José Robério Oliveira. Do outro, o grupo liderado por Neto Carletto, aliado da Paradise Eventos, empresa responsável pela feira. A Prefeitura alegou ausência de alvarás e requisitos técnicos; a Justiça liberou o evento a menos de 24 horas da sua realização. O pano de fundo é uma disputa política acirrada, onde a festa se tornou símbolo de um duelo pelo espaço público e pela narrativa eleitoral.

Quem deveria autorizar o evento? A Constituição responde

O artigo 30, inciso I, da Constituição Federal determina que compete aos municípios legislar e agir sobre assuntos de interesse local — como eventos públicos. Cabe ao Executivo, por meio de suas secretarias, avaliar o uso do solo, a segurança, o impacto ambiental e sanitário.

É a Prefeitura quem emite as licenças. O juiz pode, no máximo, controlar a legalidade do indeferimento, mas jamais substituir a análise técnica do Executivo.

Liminar judicial: justiça ou invasão de função?

O juiz concedeu liminar autorizando o evento, alegando “interesse público” e “risco de prejuízo irreparável”. No entanto, desconsiderou pareceres técnicos e documentos exigidos por lei municipal. A jurisprudência do STF é clara:

“É vedado ao Judiciário substituir a Administração no exercício de sua atividade discricionária, salvo em caso de ilegalidade.”

(STF – RE 1240999)

A decisão não apenas ultrapassou esse limite, como escancarou uma ferida institucional: quando decisões individuais de juízes interferem na administração pública, o sistema entra em desequilíbrio.

Projeto de Lei quer frear decisões como essa

O caso de Eunápolis surge no mesmo momento em que o Congresso Nacional discute o Projeto de Lei que limita decisões monocráticas no STF e em tribunais superiores. A proposta quer restringir o poder de um único magistrado de suspender políticas públicas ou atos de outros Poderes, especialmente em caráter liminar.

Esse movimento do Legislativo busca resgatar o equilíbrio entre os Poderes e combater o ativismo judicial, frequentemente criticado por decisões que interferem em políticas públicas sem respaldo técnico ou diálogo institucional.

Quem responde pelos danos se houver erro?Se houver prejuízo ao erário ou à população, o ente público pode ser responsabilizado civilmente, e o Estado pode mover ação regressiva contra o juiz (art. 37, §6º da Constituição) em caso de erro grosseiro, abuso de autoridade ou favorecimento.

A autorização de eventos públicos deve ser técnica, transparente e legal. Quando juízes decidem sozinhos, sem respaldo técnico, por pressão política ou urgência criada, não estão promovendo justiça estão fragilizando a democracia. A separação dos Poderes não é detalhe: é o que impede que a política se torne um jogo sem regras.

1

Mais recentes

A festa foi liberada pelo juiz. Mas quem deveria autorizar? Política, Justiça e os limites de cada Poder

A “II Feira de Agricultura de Eunápolis”, marcada por um forte embate entre grupos políticos locais, ganhou destaque estadual após uma decisão judicial liberar sua…

Governador realiza visita técnica à sede da Bahiafarma; estado vai avançar na produção de testes rápidos

O governador Jerônimo Rodrigues, acompanhado da secretária da Saúde, Roberta Santana, realizou, nesta quarta-feira (21), uma visita técnica à sede da Fundação Baiana de Pesquisa…

Neto Carletto denuncia descaso do DNIT com a ponte do Rio Jequitinhonha e cobra soluções urgentes

Durante reunião da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (21), o deputado federal Neto Carletto – líder do Avante, fez…

De Brasília, prefeito Ricardo Flauzino confirma investimentos de mais de R$ 12 milhões em obras para Itabela

Durante agenda oficial em Brasília, o prefeito de Itabela, Ricardo Flauzino, confirmou nesta quarta-feira (21) investimentos superiores a R$ 12 milhões, que serão destinados a…

Deputada Cláudia Oliveira intensifica cobranças por solução definitiva para a ponte sobre o Rio Jequitinhonha

Feira de Santana (BA) – Em meio às intensas chuvas que atingem o sul da Bahia, a deputada estadual Cláudia Oliveira reforçou seu compromisso com…

Neto Carletto defende PEC 66 na Câmara durante Marcha a Brasília e reforça compromisso com os municípios

Enquanto prefeitos de todo o país participavam da XXVI Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, o deputado federal Neto Carletto (Avante-BA) utilizou a tribuna…

”Um dos melhores momentos da minha vida”, diz Zé Ronaldo após Jerônimo Rodrigues anunciar obra em Feira de Santana

O prefeito de Feira de Santana, Zé Ronaldo (UB), classificou esta segunda-feira (19) como “um dos melhores momentos” da sua vida, após o governador Jerônimo…

Em evento com Jerônimo Rodrigues, ministro Renan Filho autoriza início das obras de duplicação do contorno norte e leste de Feira de Santana            

O ministro dos transportes, Renan Filho, ao lado do governador Jerônimo Rodrigues e demais autoridades, assinou, nesta segunda-feira (19), durante evento na cidade de Feira…

19 de maio: último dia para evitar o cancelamento do título de eleitor na Bahia

Se você deixou de votar ou justificar nas últimas três eleições consecutivas e ainda não quitou as multas, hoje, 19 de maio, é o prazo…

Deputada Cláudia Oliveira discute soluções para a ponte do Rio Jequitinhonha com o governador em exercício

A deputada estadual Cláudia Oliveira se reuniu, nesta quarta-feira (14), com o governador em exercício da Bahia, Geraldo Júnior, para tratar da situação crítica da…

Governador se reúne com empresas chinesas que se instalarão na Bahia para fornecer peças à fábrica da BYD

Fornecedores de peças automotivas, itens elétricos, vidros, chassis, amortecedores, entre outros componentes dos veículos da BYD, se reuniram com o governador Jerônimo Rodrigues, nesta quarta-feira…

Mais de 5 mil eleitores de Porto Seguro podem ter título cancelado a regularização vai até 19 de maio

A poucos dias do encerramento do prazo para regularizar pendências com a Justiça Eleitoral, Porto Seguro chama atenção por ocupar a 5ª posição entre os…

Governo sanciona lei que amplia atendimento do SUS a pacientes com lábio leporino, após proposta de Neto Carletto

A luta pela ampliação do acesso a cirurgias de correção de lábio leporino e fenda palatina ganhou força no Congresso com a iniciativa do deputado…

Itabela: Prefeito Ricardo Flauzino entrega UBS totalmente reestruturada no bairro da Jaqueira

O prefeito de Itabela, Ricardo Flauzino, entregou à população a Unidade de Saúde da Família (UBS) do bairro da Jaqueira totalmente reestruturada e ampliada, na…

Deputada Cláudia Oliveira preside audiência pública sobre a ponte do Rio Jequitinhonha

Na manhã desta terça-feira (13), a deputada estadual Cláudia Oliveira presidiu uma importante audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), com o objetivo de…

Rolar para cima