Entre 2012 e 2024, a Bahia registrou apenas 3,9% de crescimento populacional, um dos mais baixos do país. O estado, porém, ficou mais feminino, envelhecido e com maior participação da população preta, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (22) pelo IBGE.

Em 2024, a Bahia chegou a 14,829 milhões de habitantes, permanecendo como o 4º estado mais populoso do Brasil, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Apesar do número expressivo de moradores, o crescimento foi modesto. Entre 2023 e 2024, o avanço foi de apenas 0,1% (21 mil pessoas), índice que coloca a Bahia entre os cinco estados de menor expansão populacional.

Na série histórica da PNADC, iniciada em 2012, a Bahia também aparece entre os lanternas: seu crescimento de 3,9% ficou acima apenas de Alagoas, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
A pesquisa revela mudanças estruturais no perfil da população baiana:
- Envelhecimento: entre 2012 e 2024, a população idosa (60+) cresceu 57,7% e hoje representa 15,9% do total. Já crianças e adolescentes caíram 18,9%.
- Mais feminina: em 12 anos, o número de mulheres cresceu mais que o dobro dos homens. Hoje elas são 52% da população, e a Bahia passou do 8º para o 5º estado mais feminino do país.
- Mais preta: a população preta aumentou 46,5% no período e agora representa 24,4% dos baianos. Em contrapartida, brancos (-5,3%) e pardos (-6,2%) diminuíram.
Esses dados revelam uma Bahia que envelhece rapidamente e passa por transformações sociais marcantes.
Para mim, o dado mais simbólico é o crescimento da chefia feminina nos lares: em 12 anos, o número de mulheres responsáveis por domicílios aumentou 73,4%, enquanto a presença delas como cônjuge caiu 24,2%. É um retrato claro das mudanças de papel social no estado.
O levantamento também aponta avanços e desafios no acesso a serviços básicos:
- Rede de esgoto: a Bahia teve o maior aumento absoluto do país, com 580 mil pessoas a mais atendidas em um ano.
- Coleta de lixo: crescimento de 398 mil moradores atendidos entre 2023 e 2024, também o maior avanço nacional.
- Água encanada: é o serviço que menos avançou. O estado caiu da 15ª para a 16ª posição no ranking de atendimento entre as unidades da federação.

Esses dados reforçam o contraste: enquanto há progresso em esgoto e coleta de lixo, a Bahia ainda sofre com a lentidão na expansão do abastecimento de água.
Especialistas em demografia apontam que o baixo crescimento populacional pode impactar diretamente o mercado de trabalho e a economia local. Ao mesmo tempo, o aumento do número de idosos pressiona a demanda por serviços de saúde e políticas de cuidado.
Já movimentos sociais destacam a maior visibilidade da população preta e feminina como reflexo de mudanças sociais profundas no estado.
A Bahia, que sempre foi vista como um estado jovem e populoso, caminha agora para um perfil mais parecido com o de países envelhecidos.
Isso traz desafios concretos:
- mais pressão sobre a saúde pública,
- necessidade de políticas de inclusão para mulheres chefes de família,
- e investimentos urgentes em saneamento, que ainda não alcançam boa parte da população.
Ao mesmo tempo, a valorização da identidade preta e o avanço da chefia feminina nos lares apontam para uma sociedade que se transforma de forma silenciosa, mas profunda.

Os dados do IBGE mostram que a Bahia cresce pouco, mas muda muito. Menos jovem, mais feminina e mais preta, o estado precisa se preparar para enfrentar os desafios de uma população envelhecida e garantir que os avanços sociais se traduzam em qualidade de vida para todos.