A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta (21) a urgência para o projeto que isenta do Imposto de Renda salários de até R$ 5 mil. A proposta pode beneficiar milhões de brasileiros, mas também pressiona o equilíbrio fiscal.
O Projeto de Lei 1087/25, de autoria do Poder Executivo, teve seu regime de urgência aprovado e agora aguarda definição da data de votação em Plenário. A proposta amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para rendimentos mensais de até R$ 5 mil.
A medida representa uma renúncia fiscal estimada em quase R$ 26 bilhões anuais. Para compensar, o relator Arthur Lira (PP-AL) incluiu taxações sobre contribuintes de alta renda, com alíquotas mínimas de 10% sobre lucros e dividendos algo historicamente polêmico no Congresso.
A aprovação da isenção pode aliviar a carga tributária sobre trabalhadores da classe média, especialmente diante da inflação acumulada e da estagnação salarial.
Mas para mim, o que mais chama atenção é como uma proposta popular pode ter efeitos colaterais complexos: a perda de arrecadação pode comprometer investimentos em saúde, educação e infraestrutura, exigindo contrapartidas políticas e fiscais que ainda não estão claras.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que a data de votação será definida junto aos líderes partidários. “Precisamos avançar com responsabilidade”, disse.
Outros parlamentares, como a deputada Tabata Amaral (PSB-SP), defenderam a medida: “Estamos corrigindo uma distorção histórica que penaliza quem ganha pouco.”
Por outro lado, economistas como Zeina Latif alertam: “A conta precisa fechar. Sem uma reforma tributária mais ampla, o risco é desorganizar ainda mais o orçamento.”
Enquanto Brasília negocia alíquotas e faixas salariais, quem sente no bolso é o trabalhador. A medida parece justa, mas precisa ser sustentável. Não dá para trocar alívio imediato por rombo estrutural.
É um debate que exige transparência, planejamento e — principalmente — coragem para enfrentar interesses antigos que sempre blindaram os mais ricos do país.
A urgência aprovada pela Câmara é só o primeiro passo de uma discussão que envolve justiça tributária, equilíbrio fiscal e impacto social. Agora, a pergunta é: teremos coragem de fazer o que é certo, ou cederemos mais uma vez à política do improviso?