O Censo Demográfico de 2022 trouxe à tona informações reveladoras sobre a realidade das favelas e comunidades urbanas no Brasil e, em particular, na Bahia. A capital baiana, Salvador, se destacou não apenas pelo número absoluto de favelas, mas também pela alta proporção de sua população vivendo nessas áreas. Em um país marcado por profundas desigualdades sociais, esses dados abrem uma janela para entender as condições de vida de milhões de brasileiros que enfrentam desafios diários de moradia e acesso a serviços básicos.
Salvador concentra grande parte da população em favelas da Bahia
Em 2022, Salvador era responsável por 75,4% da população de favelas da Bahia, com 1.033.258 pessoas vivendo nessas condições. Esse número representa 42,7% da população total da cidade, ou seja, 4 em cada 10 habitantes de Salvador residem em favelas. Essa proporção coloca a capital baiana como a 3ª maior entre as capitais brasileiras, atrás apenas de Belém (PA) e Manaus (AM).
Esse fenômeno não é único da Bahia, mas reflete uma realidade nacional. Em todo o Brasil, o número de pessoas vivendo em favelas e comunidades urbanas cresceu 43,5% entre 2010 e 2022, atingindo 16,3 milhões de pessoas, ou 8,1% da população total. A Bahia, com 1.370.262 pessoas em favelas, representava 9,7% da população estadual, uma das maiores proporções do país.
A geografia das favelas baianas
A Bahia identificou, em 2022, um total de 572 favelas, localizadas principalmente em Salvador, que concentrava 45,8% dessas áreas. As outras 310 favelas estavam distribuídas em 27 dos 417 municípios baianos. Salvador não é apenas a cidade com o maior número de favelas do estado, mas também ocupa a 5ª posição no ranking nacional, atrás apenas das grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza.
O crescimento das favelas no estado foi expressivo. Em comparação com o Censo de 2010, o número de favelas na Bahia dobrou, embora o estado tenha caído de 5º para 8º lugar no ranking nacional de quantidade de áreas identificadas, devido ao aumento mais acentuado de favelas em outras regiões do Brasil.
Perfil demográfico das populações de favelas
Em termos de perfil demográfico, a população residente nas favelas da Bahia apresenta algumas características distintas em relação à população geral. As favelas baianas são predominantemente femininas (53,4%), e com maior proporção de pessoas pretas (39,2%) em comparação com a população total do estado, onde a porcentagem de pretos é de 22,4%. Em Salvador, essa proporção é ainda mais significativa, com 42,2% da população de favelas se declarando preta, superando a já elevada porcentagem da população geral (34,1%).
Outro dado importante é a faixa etária. As favelas baianas têm uma população mais jovem, com apenas 12,7% dos moradores com 60 anos ou mais, contra 15,3% na população geral do estado. Em Salvador, a proporção de idosos nas favelas é um pouco maior, atingindo 13,3%, mas ainda assim abaixo da média da cidade, que é de 16,5%.
Saneamento básico: uma realidade desigual
Um aspecto positivo destacado pelo Censo é o acesso a serviços de saneamento básico, que, surpreendentemente, é melhor nas favelas do que na população geral da Bahia. Em 2022, 98,1% dos moradores de favelas baianas tinham acesso a água potável por rede geral, uma taxa superior à média nacional. O acesso à coleta de esgoto também é bastante alto: 88,8% dos domicílios em favelas da Bahia contavam com rede de esgoto ou fossa séptica, comparado a apenas 52,2% da população geral.
No entanto, a coleta de lixo, embora também bastante abrangente, ainda está distante de ser universal: 96,6% dos moradores de favelas na Bahia têm acesso à coleta de lixo domiciliar, uma taxa ligeiramente abaixo da média nacional, mas bem superior à média do estado (82,7%).
Desafios e perspectivas
Apesar de alguns avanços nos índices de saneamento, a concentração de favelas em Salvador e na Bahia continua sendo um reflexo das desigualdades socioeconômicas do país. O Censo 2022 confirma que, além da pobreza, as favelas enfrentam problemas históricos, como a falta de segurança jurídica sobre as terras, a precariedade das infraestruturas e a escassez de investimentos públicos adequados.
O aumento das favelas e da população que nelas reside exige uma reflexão profunda sobre as políticas públicas voltadas à redução das desigualdades. A distribuição desigual dos serviços básicos, o precário acesso à saúde e educação, e a falta de mobilidade social são apenas alguns dos problemas que precisam ser enfrentados para que a realidade das favelas, como o Censo 2022 revela, possa ser transformada.
Se o crescimento das favelas é uma evidência do abandono histórico das periferias urbanas, também é um convite à ação. O desenvolvimento de políticas públicas que promovam a inclusão social, melhorem a infraestrutura e garantam direitos básicos de cidadania para os moradores das favelas não pode mais ser adiado.
Explore os dados completos do Censo 2022
Para aqueles que desejam aprofundar seu conhecimento sobre o perfil das favelas e comunidades urbanas da Bahia e do Brasil, os dados completos do Censo 2022 estão disponíveis no site do IBGE, onde é possível explorar informações detalhadas sobre a realidade de cada município. Acesse: Censo 2022 – IBGE.