Censo revela realidade invisível no Extremo Sul da Bahia com salário médio abaixo da linha da pobreza

Rendimento médio no Extremo Sul revela desigualdade e exclusão. Descubra os dados do Censo que escancaram a realidade social da região.

Por Murillo Vazquez
09/10/2025

Publicado em - -

Noticia oXarope 09102501noiticiaeconomia

Eunápolis, Porto Seguro e Itamaraju fazem parte de um mapa preocupante revelado pelo Censo 2022. Na região do Extremo Sul da Bahia, a maioria da população ainda vive com menos de meio salário mínimo por mês. Os dados expõem uma desigualdade estrutural e baixa inserção produtiva.

Só em 10 dos 417 municípios baianos o rendimento médio domiciliar per capita superava o salário mínimo em 2022

Os dados mais recentes do Censo Demográfico de 2022 revelam um quadro alarmante de pobreza monetária e desigualdade na Bahia, com reflexos diretos no Extremo Sul. No estado, quase metade da população, ou 48,5%, vivia com até meio salário mínimo mensal per capita, equivalente a R$ 606. Esse valor era inferior à linha de pobreza definida pelo Banco Mundial, que era de R$ 636 para países de renda média-alta, como o Brasil.

Eunápolis (R$ 1.253,64), Porto Seguro (R$ 1.293,05) e Itamaraju, que não aparece entre os dez municípios com maior rendimento, demonstram que mesmo os centros urbanos da região enfrentam limites sérios para promover mobilidade social.

Na média estadual, apenas 10 dos 417 municípios superaram o valor de um salário mínimo per capita mensal, com Lauro de Freitas (R$ 1.879,69) na liderança. Em contraste, cidades como Buritirama (R$ 511,72) e Pilão Arcado (R$ 514,71) figuram entre os piores indicadores do país.

A desigualdade revelada por esses dados vai além da estatística. Ela impacta diretamente a vida real da população. Com renda domiciliar per capita inferior a R$ 606, milhares de famílias no Extremo Sul enfrentam dificuldades para arcar com itens básicos como moradia, alimentação e acesso a serviços públicos.

O mercado de trabalho baiano espelha essa precariedade. O estado registrou o terceiro menor salário médio do Brasil em 2022, com R$ 1.944,86. Em mais de 130 municípios baianos, o salário médio pago estava abaixo do salário mínimo da época. Em Mulungu do Morro, o valor foi de apenas R$ 805,03, o terceiro mais baixo entre todos os municípios brasileiros.

Na região do Extremo Sul, Porto Seguro aparece como exceção, com 63,5% da população adulta ocupada. Ainda assim, os empregos estão concentrados em setores de menor remuneração, como comércio, construção civil e agropecuária.

Para mim, o que mais chama atenção é como a desigualdade de renda ainda é tratada como consequência natural, quando, na verdade, reflete decisões políticas e econômicas que priorizam poucos e excluem muitos.

Porto Seguro é um dos poucos municípios baianos em que mais da metade da população de 14 anos ou mais está ocupada. Mas o número, por si só, não revela tudo. A maioria dessas vagas está nos setores com os menores rendimentos médios, como comércio e agropecuária.

Em Eunápolis, o rendimento médio do trabalho chega a R$ 2.204,02. É um valor acima da média estadual, mas que, diante do custo de vida local e da concentração de renda, não garante qualidade de vida para a maioria.

O IBGE chama atenção para esse paradoxo. Mariana Viveiros, da Superintendência Estadual do IBGE, destaca que “a alta concentração de trabalhadores em setores pouco valorizados economicamente impacta diretamente a capacidade de ascensão social”.

Enquanto os discursos oficiais falam em crescimento e progresso, no Extremo Sul a realidade é outra. Mulheres que sustentam suas famílias com trabalhos informais, jovens que não conseguem o primeiro emprego e comunidades inteiras sobrevivendo com menos de R$ 20 por dia.

Além da desigualdade de renda, há também a de gênero. Na Bahia, as mulheres ganham 11% menos do que os homens. Elas são maioria na população, mas minoria no mercado de trabalho formal. E mesmo nas áreas em que predominam, como educação e serviços sociais, seus salários continuam inferiores aos dos colegas homens.

A desigualdade, aqui, não é um acidente. É o reflexo direto da ausência de políticas públicas voltadas para desenvolvimento regional, inclusão produtiva e redistribuição de renda.

O Extremo Sul da Bahia continua sendo um retrato vivo da desigualdade brasileira. A região tem potencial, mas carece de investimentos estruturais, qualificação profissional e políticas que priorizem quem mais precisa.

Os dados do Censo 2022 mostram que o problema é real e urgente. Não basta falar em desenvolvimento. É preciso garantir que ele chegue a todos os territórios, especialmente aqueles que foram historicamente deixados para trás.

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Censo revela realidade invisível no Extremo Sul da Bahia com salário médio abaixo da linha da pobreza

Rendimento médio no Extremo Sul revela desigualdade e exclusão. Descubra os dados do Censo que escancaram a realidade social da região.

Por Murillo Vazquez
09/10/2025 - 14h33 - Atualizado 10 de outubro de 2025

Publicado em - -

Noticia oXarope 09102501noiticiaeconomia

Eunápolis, Porto Seguro e Itamaraju fazem parte de um mapa preocupante revelado pelo Censo 2022. Na região do Extremo Sul da Bahia, a maioria da população ainda vive com menos de meio salário mínimo por mês. Os dados expõem uma desigualdade estrutural e baixa inserção produtiva.

Só em 10 dos 417 municípios baianos o rendimento médio domiciliar per capita superava o salário mínimo em 2022

Os dados mais recentes do Censo Demográfico de 2022 revelam um quadro alarmante de pobreza monetária e desigualdade na Bahia, com reflexos diretos no Extremo Sul. No estado, quase metade da população, ou 48,5%, vivia com até meio salário mínimo mensal per capita, equivalente a R$ 606. Esse valor era inferior à linha de pobreza definida pelo Banco Mundial, que era de R$ 636 para países de renda média-alta, como o Brasil.

Eunápolis (R$ 1.253,64), Porto Seguro (R$ 1.293,05) e Itamaraju, que não aparece entre os dez municípios com maior rendimento, demonstram que mesmo os centros urbanos da região enfrentam limites sérios para promover mobilidade social.

Na média estadual, apenas 10 dos 417 municípios superaram o valor de um salário mínimo per capita mensal, com Lauro de Freitas (R$ 1.879,69) na liderança. Em contraste, cidades como Buritirama (R$ 511,72) e Pilão Arcado (R$ 514,71) figuram entre os piores indicadores do país.

A desigualdade revelada por esses dados vai além da estatística. Ela impacta diretamente a vida real da população. Com renda domiciliar per capita inferior a R$ 606, milhares de famílias no Extremo Sul enfrentam dificuldades para arcar com itens básicos como moradia, alimentação e acesso a serviços públicos.

O mercado de trabalho baiano espelha essa precariedade. O estado registrou o terceiro menor salário médio do Brasil em 2022, com R$ 1.944,86. Em mais de 130 municípios baianos, o salário médio pago estava abaixo do salário mínimo da época. Em Mulungu do Morro, o valor foi de apenas R$ 805,03, o terceiro mais baixo entre todos os municípios brasileiros.

Na região do Extremo Sul, Porto Seguro aparece como exceção, com 63,5% da população adulta ocupada. Ainda assim, os empregos estão concentrados em setores de menor remuneração, como comércio, construção civil e agropecuária.

Para mim, o que mais chama atenção é como a desigualdade de renda ainda é tratada como consequência natural, quando, na verdade, reflete decisões políticas e econômicas que priorizam poucos e excluem muitos.

Porto Seguro é um dos poucos municípios baianos em que mais da metade da população de 14 anos ou mais está ocupada. Mas o número, por si só, não revela tudo. A maioria dessas vagas está nos setores com os menores rendimentos médios, como comércio e agropecuária.

Em Eunápolis, o rendimento médio do trabalho chega a R$ 2.204,02. É um valor acima da média estadual, mas que, diante do custo de vida local e da concentração de renda, não garante qualidade de vida para a maioria.

O IBGE chama atenção para esse paradoxo. Mariana Viveiros, da Superintendência Estadual do IBGE, destaca que “a alta concentração de trabalhadores em setores pouco valorizados economicamente impacta diretamente a capacidade de ascensão social”.

Enquanto os discursos oficiais falam em crescimento e progresso, no Extremo Sul a realidade é outra. Mulheres que sustentam suas famílias com trabalhos informais, jovens que não conseguem o primeiro emprego e comunidades inteiras sobrevivendo com menos de R$ 20 por dia.

Além da desigualdade de renda, há também a de gênero. Na Bahia, as mulheres ganham 11% menos do que os homens. Elas são maioria na população, mas minoria no mercado de trabalho formal. E mesmo nas áreas em que predominam, como educação e serviços sociais, seus salários continuam inferiores aos dos colegas homens.

A desigualdade, aqui, não é um acidente. É o reflexo direto da ausência de políticas públicas voltadas para desenvolvimento regional, inclusão produtiva e redistribuição de renda.

O Extremo Sul da Bahia continua sendo um retrato vivo da desigualdade brasileira. A região tem potencial, mas carece de investimentos estruturais, qualificação profissional e políticas que priorizem quem mais precisa.

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