
A ação intitulada projeto Taquari, é realizada na aldeia Taquari II, localizada à 25 km da zona urbana do município de Eunápolis, formada por aproximadamente 40 famílias da etnia Tupinambá. O projeto é organizado pelo NUPOMAR – Núcleo de Pesquisa Mídias e Arte, sob a coordenação do antropólogo e cineasta Ramon Rafaello, em parceria com lideranças da comunidade, além de comunicadores e cineastas indígenas a exemplo de Xohãhi Pataxó.
O projeto é apoiado pela Universidade Federal do Sul da Bahia, APLB – Associação dos Professores e Licenciados do Brasil, CIEBTEC – Complexo Integrado de Educação Básica, Tecnológica e Profissional de Eunápolis, coletivo Buranhém, Chocosul distribuidora.

O projeto visa aliar os elementos da educação e comunicação, enquanto fundamento metodológico, através de uma oficina de cinema, que deve gerar um documentário produzido pelos jovens participantes. Os realizadores do projeto compreendem que a metodologia da educomunicação é capaz de unir prática, aprendizado coletivo e fortalecimento da autonomia criativa dos participantes, visando o fomento do cinema regional e a formação de novos cineastas e comunicadores populares na comunidade Taquari. A oficina tem como objetivo oferecer aos participantes conteúdo técnico para viabilizar a produção de conteúdo para redes sociais, bem como a produção cinematográfica, capacitando a juventude local para atuar na comunicação popular dentro e fora da sua comunidade.
O documentário produzido no projeto deve contar a história da Aldeia Taquari II e abordar a contribuição do povo Tupinambá no processo de formação histórica, social e cultural de Eunápolis. A produção do conteúdo deve contribuir para a aplicação da Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura indígena nas redes de ensino fundamental e médio, tanto públicas quanto privadas do país. Neste sentido, estima-se que a obra audiovisual possa servir como conteúdo pedagógico, principalmente para a rede de ensino do município, a nível municipal, estadual e privado.

A cidade de Eunápolis já foi considerada o maior povoado do mundo, enquanto distrito de Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro. Na época do povoado a cidade já recebeu vários nomes, dentre eles Ibiapina, que na língua tupi significa ‘terra-limpa’; ‘terra-pelada’ ou ‘terra sem vegetação’. A cidade está localizada a pouco mais de 64 quilômetros de Porto Seguro, em uma região considerada como “sítio histórico do descobrimento”, em referência ao processo de colonização iniciado em 1500 com a chegada (ou invasão) dos portugueses na região.
Contudo, a presença indígena é completamente apagada na historiografia da cidade, que reconhece a contribuição de grandes engenheiros, prefeitos, autoridades, que nas salas de aula, artigos e livros de história levam a fama enquanto fundadores. Para os realizadores do projeto, é preciso reconstruir a história, levando em consideração que a cidade também se formou com a contribuição de povos, comunidades e pessoas a exemplo do fundador Joaquim Quatro, e também indígenas Tupinambá, que antes mesmo da fundação do povoado, se encontravam nas imediações do córrego da Platina e córrego do Itu, onde hoje está situada a Aldeia Taquari II.

Após a construção da BR 367, que deu origem a Eunápolis, entre as décadas de 1950 a 1960, muitos indígenas (que na época eram chamados de caboclos) transferiram-se para a sede do povoado, muitos destes também trabalharam na abertura da rodovia 367, compondo a equipe do engenheiro e fundador Moisés Reis.
Em uma entrevista concedida aos realizadores do projeto, o cacique Ze Costa da Aldeia Taquari II, fala sobre a sua história, bem como dos seus antepassados, que está interligada ao processo de formação do município.

De acordo com o cacique: Sou filho dessa terra de Eunápolis, nasci e me criei aqui dentro, tô com 75 anos eu conheço Eunápolis, era uma rua só, quem abriu Eunápolis foi meu pai, Francisco José de Souza, apelido dele era barriga Azul, só tinha uma rua, que era a rua do peixe (atual Av. Paulino Mendes), era rua do peixe, pois o rio Buranhém dava muito peixe e os pesqueiro vendia peixe ali naquela rua. Só tinha a rua Porto Seguro e a rua do peixe. Era tudo mata, ali onde hoje é o Gusmão era o rancador de mandioca de Ivan Moura, Dr. Gusmão tomou ali e deu aos pobre pra construir suas casa, eu pegava todo dia ali animal pra ir buscar água e vender pra Ivan Moura, vendia água no corote, abastecia o povoado todo. A feira do bueiro era um brejo onde meu pai pegava capivara, pegava tudo ali, as casa era tudo ribuçada de taubinha de aderno, era feito de barro, de tabuinha e capim, ai depois inventaram uma olaria e fez tijojo, foi desmanchando as casa de taipa e fazendo de tijolo.



















