
A Bahia registrou, em 2024, o menor índice de insegurança alimentar dos últimos 20 anos. Ainda assim, 4 em cada 10 domicílios do estado (37,8%) convivem com algum grau de restrição alimentar, revelam dados divulgados nesta quinta-feira (10) pelo IBGE.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) de 2024, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, revelou que 2,115 milhões de lares baianos enfrentam insegurança alimentar, o equivalente a 37,8% do total de domicílios do estado.
Esse é o menor índice registrado pelo IBGE desde 2004, empatado com os dados de 2013. Em comparação a 2023, houve queda de 3,4% no número de residências afetadas (menos 74 mil), mostrando tendência de melhora. Mesmo assim, o número absoluto segue elevado e coloca a Bahia como o segundo estado com mais domicílios em insegurança alimentar, atrás apenas de São Paulo.
Apesar do recuo, a insegurança alimentar ainda compromete a qualidade de vida de milhões. Em 2024, 5,8 milhões de baianos (39,1% da população estadual) viviam em lares com algum tipo de limitação no acesso a alimentos um número alarmante.
Dos 2,115 milhões de domicílios afetados:
- 1,334 milhão (23,8%) enfrentavam insegurança alimentar leve — quando há preocupação com a comida ou redução da qualidade alimentar;
- 477 mil (8,5%) viviam sob insegurança moderada, com cortes reais na quantidade de alimentos;
- 304 mil (5,4%) sofriam insegurança grave, com risco concreto de fome, afetando 707 mil pessoas.
A Bahia também possui a sexta maior taxa do país de domicílios com insegurança grave e a maior fora da Região Norte, segundo o levantamento.
“Mesmo com avanço, o número de pessoas convivendo com restrição alimentar na Bahia ainda é inaceitável. É preciso reforçar políticas públicas que garantam o básico: comida no prato.”
O estudo também evidencia o perfil dos lares mais vulneráveis à fome em nível nacional:
- 60% são chefiados por mulheres,
- 54,7% por pessoas pardas,
- 36% por responsáveis com ensino fundamental incompleto.
Especialistas apontam que, embora programas como o Bolsa Família e o Auxílio Gás tenham ajudado na recuperação dos indicadores, a estrutura de desigualdade ainda pesa fortemente sobre as famílias pobres e periféricas.
Enquanto o Brasil comemora a queda na insegurança alimentar, os dados da Bahia mostram que a fome ainda tem endereço certo: bairros populares, famílias chefiadas por mulheres e cidadãos com baixa escolaridade. É um retrato claro das feridas abertas pela desigualdade estrutural. Reduzir a fome não é apenas estatística é sobre garantir dignidade.
A queda dos índices deve ser celebrada, mas não pode servir como anestesia para o problema. Há um longo caminho até que os 304 mil lares ameaçados pela fome no estado deixem de existir. A Bahia tem, sim, motivos para comemorar a melhora nos índices de segurança alimentar. Mas o fato de ainda ocupar o segundo lugar entre os estados com mais lares afetados pela fome reforça um alerta: a insegurança alimentar continua sendo um drama cotidiano para milhões de baianos.