Durante encontro internacional na ONU nesta terça-feira (24), o presidente Lula afirmou que priorizar demandas sociais é essencial para defender a democracia. Ele criticou o peso excessivo do mercado nas decisões políticas e fez um apelo pela organização popular.
A declaração foi feita durante o encontro “Em Defesa da Democracia, Combatendo Extremismos”, promovido na sede da ONU como desdobramento de uma reunião ocorrida em Santiago, Chile, em julho. A iniciativa reúne lideranças da América do Sul e da Espanha com o objetivo de frear o avanço de discursos autoritários e fortalecer os regimes democráticos.
Lula, que falou de improviso, dividiu o plenário com nomes como Gabriel Boric, presidente do Chile, e Yamandú Orsi, presidente do Uruguai. Ele já havia abordado temas semelhantes em seu discurso na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU no dia anterior, onde reforçou a necessidade de reconstruir o multilateralismo global.
O ponto central do discurso de Lula é claro. Uma democracia que ignora as demandas sociais abre espaço para o crescimento da extrema direita. Ele critica a priorização das demandas do mercado em detrimento de políticas públicas, alertando que isso fragiliza a própria estrutura democrática.
“Se colocarmos a pauta social em segundo plano, é o fracasso da democracia”, afirmou.
Para Lula, a democracia não se sustenta sem participação popular ativa e organização de base. Ele relembrou seu início como metalúrgico e líder sindical para mostrar que a política só se transforma com a presença efetiva do povo nos espaços de decisão.
Lula provocou os líderes presentes com perguntas diretas:
“Com quantas pessoas você falou hoje sobre a necessidade de participação popular?”
E completou:
“Se não organizarmos, a democracia perdeu.”
O evento reafirma um alinhamento entre os líderes progressistas da América Latina na busca por estratégias comuns contra os retrocessos democráticos. A defesa de políticas públicas que enfrentem desigualdades sociais foi uma tônica compartilhada entre os participantes.
A fala de Lula vai além do palanque político. Ela toca em uma ferida aberta, a desconexão entre governos e sociedade civil. Quando o foco se desloca apenas para o mercado ou para agradar a setores privilegiados, quem sofre é quem vive do transporte público, da escola pública e do posto de saúde do bairro.
Enquanto as democracias discutem fórmulas econômicas, a vida real exige presença do Estado onde o mercado nunca chega. E se a democracia não consegue ser sentida no dia a dia do cidadão comum, ela vira letra morta. Abre espaço para o autoritarismo bater à porta com promessas fáceis.
Lula resgata uma ideia simples e poderosa. Democracia de verdade se faz com participação popular e justiça social. O alerta feito na ONU ecoa como um convite ou um ultimato para que os governos se reconectem com quem mais precisa deles.