O homem nu

Por Marcelo oXarope
12/09/2023

Publicado em

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Aniversário, fim de ciclo, início de outros e um poema despido de corpo e alma.

Hoje, em meu aniversário, perguntaram-me se tenho orquídeas, casamento, mesa de centro, roupas de grife, óculos escuros.

Indagações incoerentes, exatamente como os riscos de caneta quase involuntários que faço na palma das mãos e que terminam por manchar minhas roupas mais claras.

Hoje, em meu aniversário, minha medida de tolerância está entre passar pela ponte da praça vazia na madrugada fria e chegar até o observatório da solitude no meu quarto em dia claro.

Uma memória que tem sido furtiva em mim, como se eu pisasse em areia molhada de mar.

De um lado a outro, esta abulia tem dois mistérios: o da poesia e o daquele que a lê, com as devidas interseções.

Daí começo a me despir de pedaços de panos velhos, pra alegria de também velhos amigos.

Não me refiro aqui às roupas neutras dos dias de comemoração.

Falo é de me desnudar do ócio.

Com um pouco de recato, claro, porque hoje, em meu aniversário, discrição é uma questão de conservação.

Bom…dizem que ando mais clássico, chupando drops, ouvindo rock.

Outros dizem que quero ser notado – e não exatamente amado.

Estas tolas vozes que sussurravam caminhos e eu, quase inconsciente, seguia-os claudicante, surfando as notícias de botequim.

Mas o que eu desejo hoje, de verdade, no meu aniversário, é a junção de um certo ar de naturalidade e um punhado de liberdade.

E a esperança declarada do hábito do bom gosto.

Não vou negar que tenho saudade de certa juventude e de mim mesmo assim frugal.

De escrever no amarelado moleskine no parapeito da janela natural.

De alguma essência de paz entre o sopro do dia e o do crepúsculo.

De ser célebre pelo que eu era e não pelo que vestiria.

E de trilhar descoberto, sem conceitos.

Por isso mesmo que hoje, no meu aniversário, estou tirando a roupa toda pra caminhar cantando, pensando nas invenções dos séculos.

Cinema, rádio, smartphone.

Foguete, livro, psicanálise, headphone.

Torpor, amor.

TV, streaming, globalização.

Vida após a morte, comunicação.  

Eu tiro a bermuda, tiro a camiseta, eu tiro o conforto e caminho nu.

Se criarem um jeans humanizado e eu perceber que estou, de certa forma, transformado, aí sim, volto a me vestir.

Por enquanto, hoje, no meu aniversário, o presente soa como um país estrangeiro, muito postado em seu terno bem cortado.

E eu sou um homem jovem de algumas décadas, em que a única extravagância é ficar (des)pelado.

O futuro? O futuro pertence exatamente aos homens de alma jovem.

Hoje, no meu aniversário, sou este tempo, desarmado, desafetado.

Vestido tão-somente de mim.

Sem disfarce, sem filtro, espírito nu. E sem fim.

Por: Marco Jardim (@marcoajardim no Instagram)

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O homem nu

Por Marcelo oXarope
12/09/2023 - 21h34 - Atualizado há 3 semanas

Publicado em

120923noticia_1

Aniversário, fim de ciclo, início de outros e um poema despido de corpo e alma.

Hoje, em meu aniversário, perguntaram-me se tenho orquídeas, casamento, mesa de centro, roupas de grife, óculos escuros.

Indagações incoerentes, exatamente como os riscos de caneta quase involuntários que faço na palma das mãos e que terminam por manchar minhas roupas mais claras.

Hoje, em meu aniversário, minha medida de tolerância está entre passar pela ponte da praça vazia na madrugada fria e chegar até o observatório da solitude no meu quarto em dia claro.

Uma memória que tem sido furtiva em mim, como se eu pisasse em areia molhada de mar.

De um lado a outro, esta abulia tem dois mistérios: o da poesia e o daquele que a lê, com as devidas interseções.

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Bom…dizem que ando mais clássico, chupando drops, ouvindo rock.

Outros dizem que quero ser notado – e não exatamente amado.

Estas tolas vozes que sussurravam caminhos e eu, quase inconsciente, seguia-os claudicante, surfando as notícias de botequim.

Mas o que eu desejo hoje, de verdade, no meu aniversário, é a junção de um certo ar de naturalidade e um punhado de liberdade.

E a esperança declarada do hábito do bom gosto.

Não vou negar que tenho saudade de certa juventude e de mim mesmo assim frugal.

De escrever no amarelado moleskine no parapeito da janela natural.

De alguma essência de paz entre o sopro do dia e o do crepúsculo.

De ser célebre pelo que eu era e não pelo que vestiria.

E de trilhar descoberto, sem conceitos.

Por isso mesmo que hoje, no meu aniversário, estou tirando a roupa toda pra caminhar cantando, pensando nas invenções dos séculos.

Cinema, rádio, smartphone.

Foguete, livro, psicanálise, headphone.

Torpor, amor.

TV, streaming, globalização.

Vida após a morte, comunicação.  

Eu tiro a bermuda, tiro a camiseta, eu tiro o conforto e caminho nu.

Se criarem um jeans humanizado e eu perceber que estou, de certa forma, transformado, aí sim, volto a me vestir.

Por enquanto, hoje, no meu aniversário, o presente soa como um país estrangeiro, muito postado em seu terno bem cortado.

E eu sou um homem jovem de algumas décadas, em que a única extravagância é ficar (des)pelado.

O futuro? O futuro pertence exatamente aos homens de alma jovem.

Hoje, no meu aniversário, sou este tempo, desarmado, desafetado.

Vestido tão-somente de mim.

Sem disfarce, sem filtro, espírito nu. E sem fim.

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