
A Polícia Federal (PF) preparou uma cela especial na Superintendência do Distrito Federal para eventual prisão em regime fechado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente em recolhimento domiciliar.
A chamada “cela de Bolsonaro” foi organizada há mais de três meses em uma sala adaptada no térreo da sede da PF, no Setor Policial de Brasília. O espaço, destinado à custódia individual de autoridades, conta com banheiro reservado, cama, mesa de trabalho, cadeira e televisão.
A estrutura é semelhante à utilizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba entre 2018 e 2019, e também à de Fernando Collor de Mello, que ficou temporariamente em uma sala especial em Maceió.
Juristas destacam que ex-presidentes, por prerrogativa, costumam ter esse tipo de acomodação em eventuais prisões.
O STF pode determinar a prisão em regime fechado de Bolsonaro, que já responde a diferentes inquéritos — entre eles, por abolição do Estado Democrático de Direito e coação no curso de processo.
Segundo a PF, existem três alternativas possíveis para cumprir um eventual mandado:
- um batalhão militar, por Bolsonaro ser do Exército,
- uma unidade da Polícia Militar do DF, como ocorreu com o ex-ministro Anderson Torres,
- ou a própria Superintendência da PF em Brasília, onde a cela já está pronta.
A resposta sobre a situação foi enviada ao ministro Alexandre de Moraes, que encaminhou a defesa do ex-presidente à PGR (Procuradoria-Geral da República). A manifestação do órgão é esperada até este sábado, 23 de agosto.
Em nota divulgada à imprensa, os advogados de Bolsonaro afirmaram ter recebido com “surpresa” o novo indiciamento pela PF:
“Os elementos apontados na decisão serão devidamente esclarecidos dentro do prazo assinado pelo Ministro relator, observando-se, desde logo, que jamais houve o descumprimento de qualquer medida cautelar previamente imposta.”
Para mim, o que mais chama atenção é o simbolismo: a preparação da cela, mesmo antes de qualquer decisão do STF, mostra que as instituições já trabalham com a hipótese concreta de prisão.
O Brasil já viveu a prisão de dois ex-presidentes e pode estar prestes a enfrentar novamente esse cenário. Mais do que uma medida judicial, a eventual prisão de Bolsonaro se tornaria um marco histórico e político.
Enquanto apoiadores enxergam perseguição, críticos falam em impunidade prolongada. No meio disso, a sociedade assiste a mais um capítulo da crise institucional que se arrasta desde 2018.
Com a cela preparada, a PF deixa claro que está pronta para cumprir eventual decisão do STF. O desfecho do caso pode redefinir não apenas o futuro político de Jair Bolsonaro, mas também a forma como o Brasil lida com a responsabilidade de seus ex-presidentes diante da lei.