
Uma troca pública de farpas entre os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) escancarou, nesta segunda-feira (28), um conflito que vinha se desenhando nos bastidores do Partido Liberal. A crítica de Eduardo ao colega mineiro, feita em seu perfil no X, repercutiu entre apoiadores do bolsonarismo e acendeu o alerta sobre divisões internas na base mais fiel do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Triste ver a que ponto o Nikolas chegou”
A tensão ganhou visibilidade após Eduardo reagir a uma publicação do blogueiro Allan dos Santos, foragido nos EUA e investigado pelo STF, que acusava Nikolas de manter proximidade com uma influenciadora crítica da família Bolsonaro. Eduardo disparou:
“Ela é uma pessoa abjeta, que defende a minha prisão e de minha família. É triste ver a que ponto o Nikolas chegou.”
A declaração, dura e pública, colocou luz sobre um mal-estar crescente dentro da ala mais conservadora do Congresso. O embate não é apenas pessoal é sintoma de uma disputa ideológica por protagonismo na narrativa bolsonarista.
Embora ambos integrem o mesmo partido e compartilhem posições ideológicas, suas trajetórias recentes apontam para direções distintas:
- Eduardo Bolsonaro, desde fevereiro nos Estados Unidos, intensificou sua atuação política internacional com ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao governo Lula. Ele teve os bens bloqueados por ordem do ministro Alexandre de Moraes e é investigado por articulações que supostamente ferem a soberania nacional.
- Nikolas Ferreira, por sua vez, permanece atuando internamente com forte presença nas redes sociais e influência entre jovens conservadores. Apesar do alinhamento ideológico, tem evitado confrontos diretos e buscado manter distância de temas considerados mais sensíveis no momento, como o “tarifaço” dos EUA ou os processos contra a família Bolsonaro.
Essa divergência não é nova, mas se agravou com o silêncio de Nikolas diante das acusações contra Alexandre de Moraes e as sanções diplomáticas envolvendo os Estados Unidos. Para Eduardo, a postura de “voo solo” de Nikolas representa omissão. Para Nikolas, que ainda não se pronunciou sobre as críticas, o confronto pode ser um risco político calculado.
A diferença de tom entre os dois evidencia o desgaste entre lideranças que disputam a atenção de um eleitorado comum e conservador, religioso e anti-esquerda mas com estratégias de atuação distintas.
Este episódio simboliza mais do que uma rixa entre parlamentares: revela o enfraquecimento de um discurso homogêneo dentro do bolsonarismo. A ausência de Jair Bolsonaro, cada vez mais acuado judicialmente, abre espaço para disputas internas por espaço, influência e herança política.
Ao expor Nikolas Ferreira, Eduardo lança um alerta a outros aliados: a lealdade à família Bolsonaro continua sendo o principal critério de pertencimento ao seu núcleo duro. E qualquer aproximação com vozes críticas, mesmo que parciais, será tratada como traição.
O PL vive, hoje, um momento de reconfiguração. E o bolsonarismo, que se notabilizou pela unidade de discurso e ataque frontal ao “sistema”, começa a experimentar suas próprias fissuras. Como essas tensões internas serão administradas pode definir o futuro da direita radical brasileira nas próximas eleições.