Empresas apostam na bioeconomia como modelo de desenvolvimento

Na Amazônia, a bioeconomia vem se consolidando

Por Redação Oxarope
16/06/2024

Publicado em

oXarope2160624noticia5

Gerar produtos e serviços que sejam aliados à conservação e regeneração da biodiversidade é o princípio da bioeconomia, um modelo econômico que ganha cada vez mais espaço nos debates sobre soluções para promoção do desenvolvimento que seja ao mesmo tempo social, econômico e ambiental.

No estado do Pará, o incômodo com um problema causado pela cultura alimentar da região fez com que a empresária Ingrid Teles tivesse uma ideia para solucionar o grande volume de sementes de descartadas diariamente pelos comércios na produção da polpa de açaí. Em 2017, ela iniciou uma pesquisa, que, em 2022, resultou na criação de uma empresa de cosméticos.

“Foi olhando esse volume de resíduos que eu comecei a buscar uma solução que pudesse ser um modelo de negócio, mas que também contribuísse socialmente. Aí, eu cheguei a produção dos sabonetes de açaí com o aproveitamento das sementes e em uma estrutura de bioeconomia circular”, observa Ingrid.

Açaí

Para se ter uma ideia, apenas 26,5% do açaí são comestíveis, o restante tem fibra e semente, consideradas resíduo na cadeia da alimentação. Soma-se a isso, o fato de o Pará ser o maior produtor nacional de açaí, responsável por 93,87% da produção brasileira. Só em 2023, a colheita registrou 1,6 milhão de toneladas do fruto, apontou a pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2023, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Como fruto nativo da região, o cacau tem o conhecimento sobre seu manejo e beneficiamento enraizado nas comunidades tradicionais da região.

Assim como o açaí, o cacau é abundante no solo de várzea, o que também o torna um produto forte para um modelo de bioeconomia na Amazônia.

Essa tradição foi determinante no surgimento de uma empresa que beneficia o cacau para produtos usados em terapias de saúde e cerimônias, liderada só por mulheres.

Uma das sócias, Noanny Maia, disse que, em 2020, reuniu a mãe e duas irmãs em uma empreitada para retomar um negócio deixado pelo pai e a herança de quatro gerações de produção de cacau, no município de Mocajuba, no interior do Pará.

“Quando chegamos à região nos deparamos com uma realidade de degradação ambiental que impactava as famílias produtoras de cacau de uma forma impressionante, com muita pobreza e principalmente mulheres em situação de vulnerabilidade e até de violência. Não era mais aquela abundância da época do meu avô”, recorda.

Movidas pela vontade de melhorar a qualidade de vida das famílias vizinhas e impactar de forma positiva a cadeia do cacau, elas criaram uma empresa que absorve atualmente a produção cacaueira de 15 famílias e beneficia a amêndoa em barras de cacau 100%, nibs (amêndoa menos processada) e granola, além de produzir geleia, velas e escalda-pés. “A gente aproveita o máximo que a gente pode na verticalização do cacau”, afirmou a empresária.

Fortalecimento

Os dois empreendimentos se enquadram na Estratégia Nacional de Bioeconomia lançada por decreto presidencial no início deste mês de junho, o que demonstra o interesse do governo brasileiro em fortalecer políticas públicas que favoreçam esse sistema econômico. O assunto também é tema de uma iniciativa proposta durante a condução do G20 pelo Brasil. O G20 é um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais a União Africana e União Europeia. Foi criado em 1999.

Na Amazônia, a bioeconomia vem se consolidando muito antes de governos e organismos internacionais debaterem o assunto. Segundo o diretor-superintendente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Pará, Rubens Magno, o uso dos recursos naturais associado à preservação da floresta é uma prática antiga entre os povos tradicionais da Amazônia.

“Esses povos ancestrais fazem isso há muitos anos, mas muitas vezes não percebem que possuem esse conhecimento e também não percebem o valor da Amazônia e o valor que as pessoas de fora dão para a floresta”, destacou.

Mercado

Com projeções de um mercado que pode atingir US$ 8,1 bilhões ao ano, até 2050, somente na Amazônia, a bioeconomia cresce principalmente entre os micros e pequenos empreendedores. Segundo Magno, isso é resultado de um trabalho de fortalecimento desse cenário com o estabelecimento de um polo de bioeconomia do Sebrae na cidade de Santarém, responsável por tirar muitos desses empreendedores da informalidade.

Nesse polo, a instituição lançou, na quinta-feira (13), uma rede para integrar todos os atores da bioeconomia – pesquisadores, instituições governamentais, investidores e empreendedores.

“Nós estamos colocando diversos atores para dialogar e expor os seus conhecimentos de forma transversal, para fortalecer todos os entes envolvidos e, dessa forma, fazer com que as startups cresçam, que os investidores participem e os governos de todas as esferas enxerguem essa potência local”, explicou.

Para Magno, o objetivo até a 30ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém, é que a bioeconomia na região possa traduzir um sistema econômico fortalecido pelo desenvolvimento social que agrege valor aos recursos naturais, mantendo a floresta preservada. “Queremos mostrar a potência da floresta para o mundo, tendo a bioeconomia como nossa fortaleza”, finalizou.

Por: Kleber Sampaio

1678540344banner-970x90-bello.png

Mais recentes

Eunápolis recebe Selo de Transparência nos Festejos Juninos 2025 concedido pelo Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado

O Município de Eunápolis foi reconhecido com o Selo de Transparência nos Festejos Juninos 2025, concedido pelo…

São João dos Bairros começa nesta sexta-feira em Eunápolis; Prefeitura divulga programação

A Prefeitura de Eunápolis, por meio da Secretaria de Esporte, Juventude, Cultura e Lazer, divulgou oficialmente as…

Confirmado! Terceira noite de shows dos 36 anos de Itabela terá Cris Lima, Mateus Lopes e Deivison Ferraz

A Prefeitura de Itabela confirmou na tarde desta terça-feira (3) a programação oficial da terceira e última…

Veracel abre três novas oportunidades de emprego

A Veracel Celulose acaba de abrir três novas vagas para trabalhar na companhia. As posições disponíveis são…

Porto Seguro impulsiona o afroturismo com Seminário das Rotas Negras e articulações nacionais

Na tarde desta quinta-feira (29), o Centro de Cultura de Porto Seguro recebeu o Seminário de Afroturismo,…

Empresas apostam na bioeconomia como modelo de desenvolvimento

Na Amazônia, a bioeconomia vem se consolidando

Por Redação Oxarope
16/06/2024 - 16h12 - Atualizado 16 de junho de 2024

Publicado em

oXarope2160624noticia5

Gerar produtos e serviços que sejam aliados à conservação e regeneração da biodiversidade é o princípio da bioeconomia, um modelo econômico que ganha cada vez mais espaço nos debates sobre soluções para promoção do desenvolvimento que seja ao mesmo tempo social, econômico e ambiental.

No estado do Pará, o incômodo com um problema causado pela cultura alimentar da região fez com que a empresária Ingrid Teles tivesse uma ideia para solucionar o grande volume de sementes de descartadas diariamente pelos comércios na produção da polpa de açaí. Em 2017, ela iniciou uma pesquisa, que, em 2022, resultou na criação de uma empresa de cosméticos.

“Foi olhando esse volume de resíduos que eu comecei a buscar uma solução que pudesse ser um modelo de negócio, mas que também contribuísse socialmente. Aí, eu cheguei a produção dos sabonetes de açaí com o aproveitamento das sementes e em uma estrutura de bioeconomia circular”, observa Ingrid.

Açaí

Para se ter uma ideia, apenas 26,5% do açaí são comestíveis, o restante tem fibra e semente, consideradas resíduo na cadeia da alimentação. Soma-se a isso, o fato de o Pará ser o maior produtor nacional de açaí, responsável por 93,87% da produção brasileira. Só em 2023, a colheita registrou 1,6 milhão de toneladas do fruto, apontou a pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2023, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Como fruto nativo da região, o cacau tem o conhecimento sobre seu manejo e beneficiamento enraizado nas comunidades tradicionais da região.

Assim como o açaí, o cacau é abundante no solo de várzea, o que também o torna um produto forte para um modelo de bioeconomia na Amazônia.

Essa tradição foi determinante no surgimento de uma empresa que beneficia o cacau para produtos usados em terapias de saúde e cerimônias, liderada só por mulheres.

Uma das sócias, Noanny Maia, disse que, em 2020, reuniu a mãe e duas irmãs em uma empreitada para retomar um negócio deixado pelo pai e a herança de quatro gerações de produção de cacau, no município de Mocajuba, no interior do Pará.

“Quando chegamos à região nos deparamos com uma realidade de degradação ambiental que impactava as famílias produtoras de cacau de uma forma impressionante, com muita pobreza e principalmente mulheres em situação de vulnerabilidade e até de violência. Não era mais aquela abundância da época do meu avô”, recorda.

Movidas pela vontade de melhorar a qualidade de vida das famílias vizinhas e impactar de forma positiva a cadeia do cacau, elas criaram uma empresa que absorve atualmente a produção cacaueira de 15 famílias e beneficia a amêndoa em barras de cacau 100%, nibs (amêndoa menos processada) e granola, além de produzir geleia, velas e escalda-pés. “A gente aproveita o máximo que a gente pode na verticalização do cacau”, afirmou a empresária.

Fortalecimento

Os dois empreendimentos se enquadram na Estratégia Nacional de Bioeconomia lançada por decreto presidencial no início deste mês de junho, o que demonstra o interesse do governo brasileiro em fortalecer políticas públicas que favoreçam esse sistema econômico. O assunto também é tema de uma iniciativa proposta durante a condução do G20 pelo Brasil. O G20 é um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais a União Africana e União Europeia. Foi criado em 1999.

Na Amazônia, a bioeconomia vem se consolidando muito antes de governos e organismos internacionais debaterem o assunto. Segundo o diretor-superintendente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Pará, Rubens Magno, o uso dos recursos naturais associado à preservação da floresta é uma prática antiga entre os povos tradicionais da Amazônia.

“Esses povos ancestrais fazem isso há muitos anos, mas muitas vezes não percebem que possuem esse conhecimento e também não percebem o valor da Amazônia e o valor que as pessoas de fora dão para a floresta”, destacou.

Mercado

Com projeções de um mercado que pode atingir US$ 8,1 bilhões ao ano, até 2050, somente na Amazônia, a bioeconomia cresce principalmente entre os micros e pequenos empreendedores. Segundo Magno, isso é resultado de um trabalho de fortalecimento desse cenário com o estabelecimento de um polo de bioeconomia do Sebrae na cidade de Santarém, responsável por tirar muitos desses empreendedores da informalidade.

Nesse polo, a instituição lançou, na quinta-feira (13), uma rede para integrar todos os atores da bioeconomia – pesquisadores, instituições governamentais, investidores e empreendedores.

“Nós estamos colocando diversos atores para dialogar e expor os seus conhecimentos de forma transversal, para fortalecer todos os entes envolvidos e, dessa forma, fazer com que as startups cresçam, que os investidores participem e os governos de todas as esferas enxerguem essa potência local”, explicou.

Para Magno, o objetivo até a 30ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém, é que a bioeconomia na região possa traduzir um sistema econômico fortalecido pelo desenvolvimento social que agrege valor aos recursos naturais, mantendo a floresta preservada. “Queremos mostrar a potência da floresta para o mundo, tendo a bioeconomia como nossa fortaleza”, finalizou.

Por: Kleber Sampaio

1

Mais recentes

Eunápolis recebe Selo de Transparência nos Festejos Juninos 2025 concedido pelo Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado

O Município de Eunápolis foi reconhecido com o Selo de Transparência nos Festejos Juninos 2025, concedido pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) e…

São João dos Bairros começa nesta sexta-feira em Eunápolis; Prefeitura divulga programação

A Prefeitura de Eunápolis, por meio da Secretaria de Esporte, Juventude, Cultura e Lazer, divulgou oficialmente as datas, os locais e a programação do aguardado…

Confirmado! Terceira noite de shows dos 36 anos de Itabela terá Cris Lima, Mateus Lopes e Deivison Ferraz

A Prefeitura de Itabela confirmou na tarde desta terça-feira (3) a programação oficial da terceira e última noite de shows dos 36 anos de emancipação…

Veracel abre três novas oportunidades de emprego

A Veracel Celulose acaba de abrir três novas vagas para trabalhar na companhia. As posições disponíveis são para atuar como Laboratorista, na área de Coordenação…

Porto Seguro impulsiona o afroturismo com Seminário das Rotas Negras e articulações nacionais

Na tarde desta quinta-feira (29), o Centro de Cultura de Porto Seguro recebeu o Seminário de Afroturismo, com destaque para a apresentação do Programa Rotas…

Decisão judicial mantém Robério no cargo e evita paralisação administrativa em Eunápolis

Decisões judiciais que confundem mais do que esclarecem. As decisões judiciais deveriam oferecer segurança jurídica e proteger os cidadãos de arbitrariedades. No entanto, o que…

Prefeitura realiza Dia D da Luta Antimanicomial nesta sexta-feira (30)

A Prefeitura de Eunápolis, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, promove nesta sexta-feira, dia 30 de maio, a partir das 8h, o Dia D…

Eunápolis celebra a Semana Municipal do Brincar com atividades lúdicas e educativas nas escolas

A Prefeitura de Eunápolis, por meio da Secretaria Municipal de Educação, promoverá, entre os dias 26 e 30 de maio de 2025, a Semana Municipal…

Associação do Distrito Empresarial de Eunápolis assina acordo de cooperação com a SDE

A Associação do Distrito Empresarial de Eunápolis (ADEE) assinou acordo de cooperação com o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE),…

Neto Carletto denuncia descaso do DNIT com a ponte do Rio Jequitinhonha e cobra soluções urgentes

Durante reunião da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (21), o deputado federal Neto Carletto – líder do Avante, fez…

Bahia registra queda nas taxas de HIV/Aids, enquanto exposição de mulheres heterossexuais chega a 86,4% no país

A Bahia registrou uma redução considerável nas taxas de detecção de HIV e Aids, posicionando-se abaixo da média nacional, segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2024,…

Jerônimo Rodrigues se reúne com Dilma Rousseff para atrair investimentos do Banco do Brics para a Bahia

O governador Jerônimo Rodrigues realizou, nesta terça-feira (20), uma reunião virtual com Dilma Rousseff, presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do…

Veracel Celulose celebra 20 anos de sua fábrica em Eunápolis e destaca impacto da indústria no desenvolvimento regional

A Veracel Celulose comemora, neste mês de maio, 20 anos de operação industrial em Eunápolis, cidade localizada no extremo sul da Bahia. A data é…

Veracel é reconhecida pela Great Place to Work entre as melhores empresas do agronegócio no Brasil

A Veracel, indústria produtora de celulose com operação no Sul da Bahia, acaba de ser reconhecida como uma das melhores empresas para trabalhar no agronegócio…

Eleições 2026: Especialista alerta sobre prazos e regras cruciais para candidatos

Advogado destaca a importância da desincompatibilização e os riscos de quem ignora as exigências da Justiça Eleitoral Com a aproximação das eleições de 2026, cresce…

Rolar para cima