Mais de 79% das vendas de máquinas e equipamentos no Brasil ocorrem com recursos próprios

Uma pesquisa da Abimaq revela que as indústrias do setor continuam sem apoio do mercado financeiro nas operações de venda.

Por Marcelo oXarope
25/09/2023

Publicado em -

oxarope1noticia-91

Em 2023, 79,3% das vendas de máquinas e equipamentos no mercado doméstico ocorreram com recursos próprios, ou seja, com dinheiro de quem comprou a máquina ou com capital de giro de quem a vendeu. Além disso, 20 pontos percentuais das vendas são feitas com pagamento à vista. A pesquisa “Radiografia de comercialização de máquinas e equipamentos” foi realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), no período de 1º a 20 de julho de 2023, com fabricantes de máquinas e equipamentos de todo o território nacional.

A diretora-executiva de competitividade, economia e estatística da Abimaq, Cristina Zanella, diz que a pesquisa revelou que as indústrias do setor continuam sem apoio do mercado financeiro nas operações de venda. “Isso é um problema que a gente já observa há alguns anos por conta do elevado custo das taxas de juros e consequentemente do financiamento de máquinas e equipamentos”, aponta.

Para a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni, o setor de máquinas e equipamentos é o principal responsável pela transmissão tecnológica para toda a cadeia produtiva. Ela diz que a falta de investimento e de um cenário que fortaleça o negócio reflete na piora do setor. 

“A indústria tem perdido participação na composição do PIB. Em 1996, a indústria respondia com 25% da composição do PIB e hoje ela representa 20%, perdendo espaço para serviços e para agropecuária”, analisa.

Conforme o levantamento, entre os maiores entraves aos investimentos em máquinas e equipamentos no país está o elevado custo de financiamento, além do quadro de incertezas e da limitação do acesso ao crédito. “E essa é uma construção muito problemática porque a produtividade do país fica defasada e com uma qualidade muito inferior do que ela poderia”, avalia Carla Beni.

O economista Hugo Garbe ainda reforça: “Grande parte das máquinas são de alto valor agregado, são caras, e também as empresas partem para um financiamento dessas máquinas mais difícil, mais caro pra comprar as máquinas. É por isso que passam por um período de dificuldade”, explica.

Piora na qualidade

Carla Beni entende que as altas taxas de juros e a dificuldade em obter apoio financeiro são prejudiciais ao desenvolvimento. “Isso traz para o Brasil uma queda de produtividade, uma pior eficiência energética, porque quanto mais moderna a máquina, menos energia ela usa, mais precisa ela é, mais capacidade produtiva ela tem e melhores recursos tecnológicos”. Ela acrescenta que a consequência é o atraso na modernização do próprio parque industrial. 

O especialista Hugo Garbe vai além: “A consequência para o setor é que você tem menos demanda, você vende menos e, de forma geral, você gera menos renda, menos emprego, ou seja, você vai abrir menos postos de trabalho e o setor fica estagnado”, observa.

A diretora-executiva de competitividade, economia e estatística da Abimaq, Cristina Zanella, conta que o BNDES, que no passado era o principal financiador de investimentos ou de máquinas e equipamentos, segundo a última pesquisa, representou apenas 10% das vendas. “As taxas de juros praticadas pelo banco ficaram muito elevadas e muito instáveis. Então isso tem inviabilizado o uso desses recursos para investimento”, salienta.

De acordo com a pesquisa, dentre as empresas que realizaram exportação em 2023, 76% a fizeram sem o seguro de crédito. No mercado internacional, a indústria brasileira de máquinas, que se destaca com exportações da ordem de US$ 12 bilhões ao ano, por ser um dos setores da indústria de transformação que mais exporta, também se identificou a predominância das vendas com recursos próprios em mais de 85%.

Solução para o setor

Na opinião da economista da FGV Carla Beni, o problema pode ser resolvido, mas é preciso mais esforço por parte do governo. “A questão central seria uma política econômica robusta para o setor da indústria que desse condições de aquisição de equipamentos num custo financeiro mais condizente com a realidade — e não com as taxas de juros que nós possuímos hoje”, revela.

Para o economista Hugo Garbe, o setor de máquinas tem uma participação no PIB de 3%. Apesar de percentualmente ser pequeno, o especialista diz que ele é significativo e, por isso, precisa de mais apoio e incentivo. “A taxa de juros tem que ficar mais atrativa, mais baixa, abaixo de 10% pelo menos, e ter mais pujança, mais demanda para o setor industrial, aí naturalmente o setor de máquinas vai crescendo no Brasil”, destaca.

Segundo Carla Benin, também é importante lembrar que a taxa de juros precisa cair para a economia como um todo, mas especificamente para o setor de máquinas e equipamentos. “O governo precisaria montar um plano robusto justamente para desenvolver esse setor. Historicamente, os países que mais se desenvolveram na produtividade foram países que fizeram planejamento estratégico de longo prazo para o seu setor industrial”, observa.

A diretora-executiva Cristina Zanella também acrescenta: “Nossa necessidade é que se adotem taxas que sejam em padrão internacional e, além disso, elas têm que ser estáveis. Nós estamos falando de investimentos de longo prazo, tem que dar previsibilidade para quem está investindo patamares mais baixos, menos instáveis e portanto previsíveis. Isso tende a elevar o uso desses tipos de recursos para investimento”, informa.

Segundo o deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos-PE), que compõe a Frente Parlamentar Mista da Indústria de Máquinas e Equipamentos, estima-se que o Brasil tem em torno de 6,5 milhões de empresas que estão negativadas, ou seja, elas não têm acesso a crédito para melhorar sua produtividade e gerar empregos. 

“Acho que é uma ação importante para o segmento econômico brasileiro que a gente possa efetivamente dar condições para que as empresas gerem emprego e consigam gerar naturalmente, minimizando essa dificuldade e a pobreza que a gente tem no Brasil atualmente”, avalia.

Informações: Lívia Azevedo

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 Mais de 79% das vendas de máquinas e equipamentos no Brasil ocorrem com recursos próprios

Uma pesquisa da Abimaq revela que as indústrias do setor continuam sem apoio do mercado financeiro nas operações de venda.

Por Marcelo oXarope
25/09/2023 - 13h30 - Atualizado 25 de setembro de 2023

Publicado em -

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Em 2023, 79,3% das vendas de máquinas e equipamentos no mercado doméstico ocorreram com recursos próprios, ou seja, com dinheiro de quem comprou a máquina ou com capital de giro de quem a vendeu. Além disso, 20 pontos percentuais das vendas são feitas com pagamento à vista. A pesquisa “Radiografia de comercialização de máquinas e equipamentos” foi realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), no período de 1º a 20 de julho de 2023, com fabricantes de máquinas e equipamentos de todo o território nacional.

A diretora-executiva de competitividade, economia e estatística da Abimaq, Cristina Zanella, diz que a pesquisa revelou que as indústrias do setor continuam sem apoio do mercado financeiro nas operações de venda. “Isso é um problema que a gente já observa há alguns anos por conta do elevado custo das taxas de juros e consequentemente do financiamento de máquinas e equipamentos”, aponta.

Para a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni, o setor de máquinas e equipamentos é o principal responsável pela transmissão tecnológica para toda a cadeia produtiva. Ela diz que a falta de investimento e de um cenário que fortaleça o negócio reflete na piora do setor. 

“A indústria tem perdido participação na composição do PIB. Em 1996, a indústria respondia com 25% da composição do PIB e hoje ela representa 20%, perdendo espaço para serviços e para agropecuária”, analisa.

Conforme o levantamento, entre os maiores entraves aos investimentos em máquinas e equipamentos no país está o elevado custo de financiamento, além do quadro de incertezas e da limitação do acesso ao crédito. “E essa é uma construção muito problemática porque a produtividade do país fica defasada e com uma qualidade muito inferior do que ela poderia”, avalia Carla Beni.

O economista Hugo Garbe ainda reforça: “Grande parte das máquinas são de alto valor agregado, são caras, e também as empresas partem para um financiamento dessas máquinas mais difícil, mais caro pra comprar as máquinas. É por isso que passam por um período de dificuldade”, explica.

Piora na qualidade

Carla Beni entende que as altas taxas de juros e a dificuldade em obter apoio financeiro são prejudiciais ao desenvolvimento. “Isso traz para o Brasil uma queda de produtividade, uma pior eficiência energética, porque quanto mais moderna a máquina, menos energia ela usa, mais precisa ela é, mais capacidade produtiva ela tem e melhores recursos tecnológicos”. Ela acrescenta que a consequência é o atraso na modernização do próprio parque industrial. 

O especialista Hugo Garbe vai além: “A consequência para o setor é que você tem menos demanda, você vende menos e, de forma geral, você gera menos renda, menos emprego, ou seja, você vai abrir menos postos de trabalho e o setor fica estagnado”, observa.

A diretora-executiva de competitividade, economia e estatística da Abimaq, Cristina Zanella, conta que o BNDES, que no passado era o principal financiador de investimentos ou de máquinas e equipamentos, segundo a última pesquisa, representou apenas 10% das vendas. “As taxas de juros praticadas pelo banco ficaram muito elevadas e muito instáveis. Então isso tem inviabilizado o uso desses recursos para investimento”, salienta.

De acordo com a pesquisa, dentre as empresas que realizaram exportação em 2023, 76% a fizeram sem o seguro de crédito. No mercado internacional, a indústria brasileira de máquinas, que se destaca com exportações da ordem de US$ 12 bilhões ao ano, por ser um dos setores da indústria de transformação que mais exporta, também se identificou a predominância das vendas com recursos próprios em mais de 85%.

Solução para o setor

Na opinião da economista da FGV Carla Beni, o problema pode ser resolvido, mas é preciso mais esforço por parte do governo. “A questão central seria uma política econômica robusta para o setor da indústria que desse condições de aquisição de equipamentos num custo financeiro mais condizente com a realidade — e não com as taxas de juros que nós possuímos hoje”, revela.

Para o economista Hugo Garbe, o setor de máquinas tem uma participação no PIB de 3%. Apesar de percentualmente ser pequeno, o especialista diz que ele é significativo e, por isso, precisa de mais apoio e incentivo. “A taxa de juros tem que ficar mais atrativa, mais baixa, abaixo de 10% pelo menos, e ter mais pujança, mais demanda para o setor industrial, aí naturalmente o setor de máquinas vai crescendo no Brasil”, destaca.

Segundo Carla Benin, também é importante lembrar que a taxa de juros precisa cair para a economia como um todo, mas especificamente para o setor de máquinas e equipamentos. “O governo precisaria montar um plano robusto justamente para desenvolver esse setor. Historicamente, os países que mais se desenvolveram na produtividade foram países que fizeram planejamento estratégico de longo prazo para o seu setor industrial”, observa.

A diretora-executiva Cristina Zanella também acrescenta: “Nossa necessidade é que se adotem taxas que sejam em padrão internacional e, além disso, elas têm que ser estáveis. Nós estamos falando de investimentos de longo prazo, tem que dar previsibilidade para quem está investindo patamares mais baixos, menos instáveis e portanto previsíveis. Isso tende a elevar o uso desses tipos de recursos para investimento”, informa.

Segundo o deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos-PE), que compõe a Frente Parlamentar Mista da Indústria de Máquinas e Equipamentos, estima-se que o Brasil tem em torno de 6,5 milhões de empresas que estão negativadas, ou seja, elas não têm acesso a crédito para melhorar sua produtividade e gerar empregos. 

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