Feminicídio: a cada 10 casos consumados, outros 12 são tentados

Lei enviada para sanção presidencial aumenta para 40 anos a pena para o crime

Por Marcelo oXarope
14/09/2024

Publicado em -

Foto por Alice Vergueiro/Estadão
Foto por Alice Vergueiro/Estadão

O número de vítimas de feminicídio cresce a cada ano no país. Entre janeiro e junho de 2024,  905 mulheres foram assassinadas e outras 1,1 mil sofreram tentativa de feminicídio, segundo dados do Monitor de Feminicídios no Brasil — o Laboratório de Estudos de Feminicídios (Lesfem), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná.

O dado mostra que a cada 10 mulheres que são mortas pela violência doméstica e de gênero, outras 12 continuam na mira de seus agressores. Na tentativa de reduzir esses números, a pena para o crime vai aumentar para até 40 anos de prisão, segundo uma lei enviada para sanção do presidente Lula. 

Medida que, para a antropóloga e especialista em feminismo e professora da Universidade de Brasília, Lia Zanotta, não resolve o problema, nem muda o atual cenário que vivemos.

“Aumentar pena não vai resolver o problema do aumento no número de feminicídios. Temos que prevenir os feminicídios. E isso só acontece se a gente proteger a vítima. Denunciar os casos de agressão, levar uma mulher que sofre violência doméstica até um centro de acolhimento ou uma delegacia, para que essa mulher possa ter medidas que garantam sua distância do agressor.”

Mas o advogado criminalista, especialista em violência doméstica e professor de Direito Penal, Processo Penal e Lei Maria da Penha, Rafael Paiva enxerga de outra forma. Para ele, o aumento de pena é o ponto de partida para coibir esse tipo de prática.

“Eu entendo que o endurecimento de pena é um fator importante para coibir novos casos. Obviamente que ele não é o único fator, mas ele é um fator importante. Se a gente tem penas baixas no nosso atual sistema judicial, o preso acaba tendo direito a vários e vários benefícios; quando a gente aumenta a pena, esses benefícios vão sendo gradativamente mais dificultados para esse condenado.”

Lei Maria da Penha

Para a professora Lia Zanotta, a Lei Maria da Penha compreende todos os requisitos para a prevenção do feminicídio e o cumprimento dela já seria suficiente para a redução no número de casos. No texto do projeto está previsto o aumento da pena do condenado que descumprir medida protetiva contra a vítima.

Isso valeria, por exemplo, para condenados por violência doméstica que comprem regime semiaberto. Se nesse caso o agressor descumprir as medidas protetivas e se aproximar da vítima, terá a pena aumentada. O acréscimo passa de detenção de três meses a dois anos para reclusão de dois a cinco anos e multa.

Mas outras mudanças seriam ainda mais efetivas, acredita Lia Zanotta. 

“Prevenir pra mim é dar muito mais campanhas políticas e muito mais condições para os juizados especializados, inclusive com mais unidades e mais delegacias. Nós precisamos de mais recursos para que funcione, de fato, a lei e a rede de encaminhamento e das medidas obrigatórias desses homens agressores à reeducação psicossocial.”

O que diz o PL 4266/2023

Aprovado no ano passado no Senado, o Projeto de Lei, agora aprovado na Câmara, está nas mãos do presidente Lula para ser ou não sancionado. A principal mudança está no aumento da pena, que passa dos atuais 12 a 30 anos de reclusão para 20 a 40 anos.

O PL também prevê agravantes — que podem aumentar a pena. Eles passam a valer para quem cometer crime contra uma mãe ou mulher responsável por uma pessoa com deficiência. Além disso, será considerado agravante quando o crime envolver:

  • emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio cruel;
  • traição, emboscada, dissimulação ou recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
  • e uso de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

Outra mudança prevista no texto é a transferência do preso para uma unidade mais longe da residência da vítima caso haja algum tipo de ameaça ou novas agressões contra ela ou sua família. O tempo para a progressão de regime fechado para o semiaberto também será maior – passa de 50% da pena para 55%. E em qualquer saída autorizada do presídio o uso da tornozeleira eletrônica será obrigatório. 

Reportagem: Lívia Braz

1678540344banner-970x90-bello.png

Mais recentes

Bahia recebe Programa Rouanet da Juventude com apoio direto para projetos culturais

Edital garante até R$ 200 mil por projeto e foco na inclusão social de jovens entre 15…

FIEB abre inscrições para o 15º Prêmio Indústria Baiana Sustentável

Com o tema “Uma Gota de Ação, Um Oceano de Mudanças” , a Federação das Indústrias do…

Eunápolis lança programa de Voluntárias Sociais para fortalecer a ação social

Nesta quinta-feira (20), a secretária municipal de Assistência Social de Eunápolis, Maria Menezes Viana, e a primeira-dama…

Polícia Civil deflagra operação no Extremo Sul do Estado, em área de conflito entre indígenas e produtores rurais

Na manhã desta quinta-feira (20/03), a Polícia Civil da Bahia, em ação integrada com a Polícia Militar…

Prefeitura promove Quarta Rosa ofertando atendimentos de saúde às mulheres em Eunápolis

Em comemoração ao Mês da Mulher, a Prefeitura de Eunápolis, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, realizará nos dias 19…

Feminicídio: a cada 10 casos consumados, outros 12 são tentados

Lei enviada para sanção presidencial aumenta para 40 anos a pena para o crime

Por Marcelo oXarope
14/09/2024 - 07h41 - Atualizado 14 de setembro de 2024

Publicado em -

Foto por Alice Vergueiro/Estadão
Foto por Alice Vergueiro/Estadão

O número de vítimas de feminicídio cresce a cada ano no país. Entre janeiro e junho de 2024,  905 mulheres foram assassinadas e outras 1,1 mil sofreram tentativa de feminicídio, segundo dados do Monitor de Feminicídios no Brasil — o Laboratório de Estudos de Feminicídios (Lesfem), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná.

O dado mostra que a cada 10 mulheres que são mortas pela violência doméstica e de gênero, outras 12 continuam na mira de seus agressores. Na tentativa de reduzir esses números, a pena para o crime vai aumentar para até 40 anos de prisão, segundo uma lei enviada para sanção do presidente Lula. 

Medida que, para a antropóloga e especialista em feminismo e professora da Universidade de Brasília, Lia Zanotta, não resolve o problema, nem muda o atual cenário que vivemos.

“Aumentar pena não vai resolver o problema do aumento no número de feminicídios. Temos que prevenir os feminicídios. E isso só acontece se a gente proteger a vítima. Denunciar os casos de agressão, levar uma mulher que sofre violência doméstica até um centro de acolhimento ou uma delegacia, para que essa mulher possa ter medidas que garantam sua distância do agressor.”

Mas o advogado criminalista, especialista em violência doméstica e professor de Direito Penal, Processo Penal e Lei Maria da Penha, Rafael Paiva enxerga de outra forma. Para ele, o aumento de pena é o ponto de partida para coibir esse tipo de prática.

“Eu entendo que o endurecimento de pena é um fator importante para coibir novos casos. Obviamente que ele não é o único fator, mas ele é um fator importante. Se a gente tem penas baixas no nosso atual sistema judicial, o preso acaba tendo direito a vários e vários benefícios; quando a gente aumenta a pena, esses benefícios vão sendo gradativamente mais dificultados para esse condenado.”

Lei Maria da Penha

Para a professora Lia Zanotta, a Lei Maria da Penha compreende todos os requisitos para a prevenção do feminicídio e o cumprimento dela já seria suficiente para a redução no número de casos. No texto do projeto está previsto o aumento da pena do condenado que descumprir medida protetiva contra a vítima.

Isso valeria, por exemplo, para condenados por violência doméstica que comprem regime semiaberto. Se nesse caso o agressor descumprir as medidas protetivas e se aproximar da vítima, terá a pena aumentada. O acréscimo passa de detenção de três meses a dois anos para reclusão de dois a cinco anos e multa.

Mas outras mudanças seriam ainda mais efetivas, acredita Lia Zanotta. 

“Prevenir pra mim é dar muito mais campanhas políticas e muito mais condições para os juizados especializados, inclusive com mais unidades e mais delegacias. Nós precisamos de mais recursos para que funcione, de fato, a lei e a rede de encaminhamento e das medidas obrigatórias desses homens agressores à reeducação psicossocial.”

O que diz o PL 4266/2023

Aprovado no ano passado no Senado, o Projeto de Lei, agora aprovado na Câmara, está nas mãos do presidente Lula para ser ou não sancionado. A principal mudança está no aumento da pena, que passa dos atuais 12 a 30 anos de reclusão para 20 a 40 anos.

O PL também prevê agravantes — que podem aumentar a pena. Eles passam a valer para quem cometer crime contra uma mãe ou mulher responsável por uma pessoa com deficiência. Além disso, será considerado agravante quando o crime envolver:

  • emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio cruel;
  • traição, emboscada, dissimulação ou recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
  • e uso de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

Outra mudança prevista no texto é a transferência do preso para uma unidade mais longe da residência da vítima caso haja algum tipo de ameaça ou novas agressões contra ela ou sua família. O tempo para a progressão de regime fechado para o semiaberto também será maior – passa de 50% da pena para 55%. E em qualquer saída autorizada do presídio o uso da tornozeleira eletrônica será obrigatório. 

Reportagem: Lívia Braz

1

Mais recentes

Bahia recebe Programa Rouanet da Juventude com apoio direto para projetos culturais

Edital garante até R$ 200 mil por projeto e foco na inclusão social de jovens entre 15 e 29 anos A Bahia foi contemplada na…

FIEB abre inscrições para o 15º Prêmio Indústria Baiana Sustentável

Com o tema “Uma Gota de Ação, Um Oceano de Mudanças” , a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) abriu as inscrições para…

Eunápolis lança programa de Voluntárias Sociais para fortalecer a ação social

Nesta quinta-feira (20), a secretária municipal de Assistência Social de Eunápolis, Maria Menezes Viana, e a primeira-dama e deputada estadual Cláudia Oliveira reuniram-se com mulheres…

Polícia Civil deflagra operação no Extremo Sul do Estado, em área de conflito entre indígenas e produtores rurais

Na manhã desta quinta-feira (20/03), a Polícia Civil da Bahia, em ação integrada com a Polícia Militar da Bahia (Comando Regional Extremo Sul e Companhias…

Prefeitura promove Quarta Rosa ofertando atendimentos de saúde às mulheres em Eunápolis

Em comemoração ao Mês da Mulher, a Prefeitura de Eunápolis, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, realizará nos dias 19 e 26 de março a Quarta Rosa, uma ação voltada…

Bahia bate recorde no abate de bovinos e na produção de ovos em 2024

A pecuária baiana teve um desempenho histórico em 2024, registrando nenhum número de bovinos abatidos e na produção de ovos de galinha, conforme apontam os…

Bahia reduz tempo de espera por consultas e se destaca na assistência à saúde

A Bahia figura entre os estados com menor tempo médio de espera para consultas especializadas no Sistema Único de Saúde (SUS), com 12,5 dias, segundo…

Veracel abre oportunidade para Analista de Processos Florestais Sênior

A Veracel Celulose abriu mais uma vaga para ingressar na companhia. A oportunidade é para atuar como Analista de Processos Florestais Sênior, na área de Coordenação Inovação Qualidade Florestal. As…

Corregedoria do TRE-BA promove encontro com coletivos em Porto Seguro para debater melhorias na Justiça Eleitoral

A Corregedoria Regional Eleitoral da Bahia (CRE-BA) realizará, no dia 10 de abril, o 1º Encontro com os Coletivos em Porto Seguro. Com o tema…

Guarda Municipal e Portran trabalham em conjunto para melhorar o trânsito de Porto Seguro

A Guarda Civil Municipal de Porto Seguro e a Portran (Autarquia do Trânsito) uniram forças para aprimorar a segurança e a organização no trânsito da…

Prefeitura de Eunápolis realiza primeiro mutirão de cirurgias eletivas no Hospital Regional, em 2025

A Prefeitura de Eunápolis, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, está promovendo o primeiro Mutirão de Cirurgias Eletivas do município no Hospital Regional, em…

Paulinho Toa Toa cumpre agenda em Brasília e traz resultados para o turismo de Porto Seguro

O prefeito em exercício de Porto Seguro, Paulinho Toa Toa, esteve em Brasília nesta semana cumprindo uma agenda de trabalho voltada ao fortalecimento do turismo…

Relator libera e STF julgará denúncia contra Bolsonaro e mais sete acusados no próximo dia 25

O ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), marcou para o dia 25/3 a análise, pelo colegiado, da denúncia oferecida…

4ª edição do Projeto MURAL cadastra prédios interessados em receber obra de arte em suas fachadas

O Movimento Urbano de Arte Livre, o MURAL, considerado o primeiro projeto de Arte Vertical realizado na capital baiana, com o objetivo de deixar a…

Porto Seguro intensifica promoção em Portugal junto a SolFérias conquistando o turista europeu

A Prefeitura de Porto Seguro, por meio da Secretaria de Turismo, está realizando uma ação de mercado e marketing estratégico em Portugal, em parceria com…

Rolar para cima